Relacionamento aberto pode dar certo na prática?

Casais que optaram por viver o amor livre precisam controlar ciúmes e conhecer as implicações deste tipo de romance

Relacionamento aberto é uma das formas de amar do século XXI.


Imortalizado pela canção Paula e Bebeto, composição de Milton Nascimento e Caetano Veloso,  o verso ‘toda maneira de amar vale a pena’ parece ser o lema da nova era. Dos movimentos hippies de amor livre na década de 1960 até a amizade colorida, cultuada nos anos 1980,  passando pela prática do swing, expandido no fim dos anos 1990. 

Agora, no século XXI, o relacionamento aberto começa despontar como a solução para relações mais felizes entre os casais da atualidade. Mas será que, na prática, um sentimento tão nobre e sacramentado como o amor pode funcionar na forma de relacionamento aberto

Ao serem confrontados com este questionamento, especialistas e praticantes afirmam que sim. Mas o funcionamento ou não do amor sem amarras dependerá muito do autoconhecimento. Também é primordial estar ciente que o relacionamento aberto tem implicações e não será nenhum 'mar de rosas'.

Complexidade das relações íntimas

“Na verdade,  muitos problemas de uma relação monogâmica também podem ser encontradas na relação amorosa livre.  A grande diferença está na questão da não traição e da verdade que existe nos amores livres”, lembra Diana Dahre, psicanalista e presidente do Instituto Vida Positiva.

Para a especialista, a transformação dos comportamentos de casais e as novas formas de viver o amor, como no caso do relacionamento aberto, acontecem porque a sexualidade humana é sempre complexa.

Como toda experiência do indivíduo, a forma como cada um lida com o sexo e o amor é fruto do conjunto de processos sociais, culturais e históricos. “A complexidade amorosa está refletida desde Platão até as redes sociais. Esse mundo de signos se reflete nas relações amorosas”, explica Diana.

Relacionamento aberto e o ciúme

Reflexo dos movimentos sociais, o relacionamento aberto acaba esbarrando em uma das características mais marcantes da raça humana: o ciúme. Em pesquisa para seu livro, em fase de lançamento, a psicanalista e presidente do Instituto Vida Positiva, Diana Dahre, encontrou estudos que resumem os diferentes tipos de ciúme e como esta sensação amarga a qualquer relacionamento, aberto ou não, afeta os casais.

Existem diversas variações e limites de ciúmes, que vão desde o ciúme possessivo, o mais doentio e justificativa frequente para os episódios de violência doméstica, até o chamado o ciúme de exclusão ou ciúme do tempo.

“Este último é muito comum no relacionamento aberto. Diz respeito ao tempo e atenção que a pessoa sente que está desigual, quando um dos parceiros vive o afeto com outra pessoa.  Esse tipo de ciúmes é mais intenso quando o relacionamento com a terceira pessoa se encontra no início”, diz a psicanalista.

'Compersão' é a palavra de ordem

Mas a palavra de ordem  em um relacionamento aberto é ainda desconhecida do dicionário oficial: 'compersão'. Encontrada em diversos estudos sobre as relações poliamorosas, compersão significa o 'anticiúmes'. 

Um dos termos mais usados no poliamor, a palavra traduziria o sentimento de altruísmo amoroso, capaz de fazer o parceiro se sentir feliz com a satisfação do companheiro, independente de essa satisfação ser uma outra relação amorosa ou sexual.

“É comum as pessoas, dentro da comunidade poliamorosa,  afirmarem que o ciúme vem com a influência do modelo dos relacionamentos monogâmicos”, diz Diana Dahre.  Segundo a especialista, uma vez superado esse modelo, a 'compersão' seria, então, a chave para o bom funcionamento de um relacionamento aberto.

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