Poliamor: quando as relações deixam de ser somente a dois
Cada vez mais comum na sociedade, as relações amorosas que envolvem mais de duas pessoas quebram tabus e seguem suas próprias regras
Na contramão do recém-aprovado Estatuto da Família – no qual o Congresso Nacional definiu como família um homem, uma mulher e seus filhos - o poliamor floresce entre os muros limitantes dos preconceitos. Apesar do tabu, as relações amorosas que permitem mais de duas pessoas têm sido cada vez mais comum na sociedade.
Menos focado no sexo e mais na afetividade, o poliamor distingue-se de outras práticas, como a troca casais (swing), com conotação exclusivamente sexual, ou o amor livre, quando o casal original permite outras relações, mas que são vividas separadamente.
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“O poliamor é quando há um casal original que admite outras pessoas dentro do relacionamento”, explica Sônia Menezes, acadêmica em psicologia da Universidade Sul Fluminense de Volta Redonda (RJ). Sonia é criadora do grupo “Silêncio! Estamos Recriando o Amor” que partiu do trabalho intitulado “Desconstruindo o amor monogâmico”, aprovado pelo Conselho Regional de Psicologia do Rio de Janeiro.
O estudo trata dos movimentos que rompem padrões e buscam novos modos de construir o amor romântico. “O ser humano é feito para amar e tem capacidade infinita de amar. Podemos amar irmãos, filhos, avós, tios, amigos. Temos permissão para isso. Mas não há permissão para amar mais de um parceiro de vida”, provoca Sonia.
As regras do poliamor
No estudo sobre as novas saídas para o amor monogâmico, o poliamor aparece como um tipo de relação focada em um casal central, em torno do qual se estabelece o compromisso com os parceiros afetivos que vierem depois. Mas no poliamor da vida real, cada relação pode ter suas próprias regras.
É o caso da vida conjugal entre a vendedora Angélica Tedesco, 24 anos, da auxiliar administrativa Paula Gracielly, 31 anos, e do supervisor de operações Klinger Souza, de 31 anos. O relacionamento a três, denominado por eles próprios de 'trisal', iniciou como um casal formado por Paula e Klinger. Angélica chegou depois, sem que isso configurasse uma posição menos nobre na união.
"Hoje não nos vemos mais como a Paula e o Klinger mais a Angélica. Nós três somos um casal só. Sem distinção e sem privilégios. Nos tratamos da mesma forma. Temos o mesmo peso dentro da relação, porém não ficamos medindo. Vivemos muito naturalmente", explicam os três, que sempre respondem as questões em conjunto.
O poliamor e a família
E quando dizem viver a situação naturalmente, Paula, Angélica e Klinger não estão exagerando. Os três moram juntos, frequentam as três famílias com total aceitação e têm até uma página na rede social Facebook, provando que não há o que esconder. Sem contar os planos de terem filhos no final de 2016.
A ideia é que Paula engravide primeiro apenas por ser a mais velha. "Elas não vão engravidar no mesmo momento. Apesar de ser bem tentador por ser romântico, achamos melhor pensar com o pé no chão", explica o "trisal".
Quando perguntados o que falariam para os parlamentares que acabaram de aprovar o limitador estatuto da família, os três são categóricos "O que define uma família é o sentimento entre as duas ou mais pessoas, não uma reunião de pessoas em um Congresso".
Vivendo na pele a dor e a delícia de serem o que são, Angélica, Paula e Klinger também enfrentaram e tiveram medo de preconceitos. "Mas o que sempre nos motivou a seguir foi o amor que existe em nós", afirmam, confirmando a tese da psicóloga sobre a capacidade infinita de amor que o ser humano carrega.
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