Traição: é possível perdoar ou é melhor terminar o relacionamento?

Entenda como a quebra do pacto de fidelidade afeta um casal e por que nem sempre separar-se é a melhor solução

Perdoar uma traição pode evitar uma dor ainda maior: a da separação.


Quando o engenheiro eletrônico Sylvain Guiet, 47 anos,  descobriu que sua mulher, e mãe de seus dois filhos, o estava traindo, tentou entender o que poderia estar acontecendo no relacionamento “Foi ela mesma quem me contou que começara a sair com seu chefe. Disse-me estar arrependida e que preferia me contar a verdade a conviver com a mentira”, conta o engenheiro.

Primeiro, veio a raiva. Depois, as ofensas. Muitas vezes, a discussão levou à culpabilização um do outro. A única certeza que se tem diante de uma traição é a mágoa que toma conta dos sentimentos. Mas apesar de ter sido difícil, Sylvain considerou o fato de sua mulher ter preferido se abrir e expor sua fraqueza e resolveu perdoar a traição.

“Além de ser ainda na ocasião apaixonado por ela, pensei na família e decidi tentar continuar a relação”, completa. Hoje estão divorciados e o engenheiro garante que os motivos foram outros.


Caso raro, principalmente em uma sociedade marcada pelo machismo, o perdão de um homem a uma mulher que trai é a prova que um deslize pode ser reconsiderado. Principalmente quando o casal tem uma história de vida a dois valorosa e pela qual vale a pena lutar. Estar disposto a perdoar uma traição, no entanto, não passa apenas pelo sentimento entre o casal. 

Perdoar quem traiu é tabu social

Um estudo de pesquisadores americanos da Universidade do Texas e da Universidade da Flórida, feito em 2010, revelou o quanto outras implicações influenciam na decisão de perdoar ou não uma traição. Algumas vezes perdoar é a vontade do indivíduo, que rejeita o perdão em função das exigências sociais.

Além de desestabilizar o casal, a traição é socialmente recriminada. E não só, o perdão também sofre intolerância da sociedade. De acordo com especialistas, isso se deve ao fato de que perdoar uma traição evidencia o quanto nenhum relacionamento é perfeito

“Primeiro é preciso derrubar o mito da perfeição social. Então, a aceitação das falhas no relacionamento pode ser tratadas como deve: um problema exclusivo do casal”, explica a psicanalista Isabela Rosa. 

Mas a especialista reforça que é preciso entender qual é a dinâmica do casal. "Por vezes a traição sexual é mais fácil de superar. Infidelidade pesa menos que deslealdade e o casal precisa compreender isso e saber separar um sentimento do outro", completa a psicanalista. 

Dor da separação não é menor que a da traição

A professora universitária Carmen Santos sentiu isso na pele. Hoje com 70 anos, diz arrepender-se de ter pedido o divórcio em 1984. Seu marido a traiu com uma colega de trabalho e que morava no mesmo prédio que o casal.

"Eram os anos 1980, Malu Mulher (a primeira série da TV brasileira que tratava do feminismo) correndo solta na TV e eu achei que não tinha perdão. A única saída era a separação”, conta Carmen.

Para Carmen, hoje olhando a situação com distanciamento, o rompimento pode ter sido o caminho mais fácil. Por não suportar a dor da traição, acabou abrindo mão da família e causando sofrimento a todos, principalmente a seus três filhos, adolescentes na época. 

“Hoje, com outra sabedoria, eu teria administrado a dor porque havia amor, da minha parte e da dele, havia uma família linda. E o sofrimento da separação não é menor que o da traição”, admite a professora.

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