Dietas restritivas podem causar compulsão alimentar
Pacientes com o transtorno perdem o controle de sua alimentação e comem de maneira exagerada
Em pleno século 21, estar gordinha, para muitas mães e avós, ainda é sinônimo de estar saudável. Contudo, a obesidade está longe de ser algo positivo e pode esconder transtornos graves, como a compulsão alimentar.
A equipe d'A Revista da Mulher entrevistou uma das maiores especialistas sobre o tema, a nutricionista Sophie Deram, que também é autora do livro O Poder das Dietas. Segundo ela, existe um paradoxo na compulsão alimentar: ela acomete, geralmente, quem está tentando emagrecer.
As dietas restritivas (aquelas que cortam algum grupo alimentar, como carboidrato ou gordura) pioram o quadro da doença, isso por que o apetite do paciente aumenta. A ansiedade e a frustração de nem sempre conseguir seguir a dieta rigorosamente também são fatores que desencadeiam o surgimento da compulsão alimentar.
Ainda segundo Sophie, nas dietas restritivas, nosso corpo deixa de ser nutrido corretamente. Com isso, o cérebro entra em estado de alerta, acha que está em perigo, adapta-se ao estresse e aumenta a fome como mecanismo de proteção. O resultado é comer mais e mais, sem parar. "De 90% a 95% das pessoas que fazem dieta restritiva voltam ao peso inicial ou ganham mais peso", afirma.
Não confunda exagero com compulsão alimentar
Sem uma causa definida, a compulsão alimentar pode chegar de repente, mas sempre depois de fazer uma dieta restritiva. "Estudos mostram que fazer dieta restritiva aumenta até 18 vezes o risco de compulsão alimentar", conta. Sophie define esse transtorno em “comer uma quantidade muito maior do que uma pessoa normal está acostumada, fazendo com que ela tenha a sensação de perda de controle”. Contudo, existe uma diferença entre a compulsão e o exagero.
“Exagerar faz parte do ser humano. Comer um pouquinho a mais numa festa ou daquele bolo delicioso não é compulsão. Compulsão representa a perda de controle, com sensação de vergonha”, explica a nutricionista. Quando o paciente chega nesse ponto, é hora de procurar ajuda. “É muito difícil sair desse ciclo vicioso sozinho", aleta a nutricionista.
Tratamento
Já existe terapia para curar a compulsão alimentar. “Eu fico muito triste de ver no hospital mulheres que ficaram anos sem procurar ajuda, achando que elas eram fracassadas, fracas e perdendo a força de vontade” lamenta a especialista. Por isso, buscar ajuda já é o primeiro passo para começar o tratamento.
Em seguida, é preciso identificar os sintomas. O primeiro dele é a culpa. "Geralmente a pessoa tenta não comer, mas quando vai se alimentar, come com culpa ou acredita que está se despedindo do alimento, pois não sabe quando vai comê-lo novamente. Isso pode desencadear uma perda de controle assustadora", alerta.
A especialista conta que o tratamento é geralmente feito por uma equipe multidisciplinar composta por psicólogos, psiquiatras e nutricionistas. “O psiquiatra faz o diagnóstico médico, depois, trabalhamos o psicológico do paciente em conjunto com a nutricionista a partir de uma reeducação alimentar”, explica. Segundo a nutricionista, cerca de 10 sessões já são suficientes para curar a doença.
A maior dificuldade para tratar a compulsão alimentar, de acordo com Sophie é a ansiedade. “A pessoa sempre está ansiosa pra emagrecer, por isso é difícil explicar que isso demora um tempo, afinal, o corpo foi muito agredido.” Outra dificuldade é quando o paciente, ainda sem terminar o tratamento, acha que já está recuperado e abandona o consultório.
Riscos para a Saúde
A compulsão, que já é considerada uma doença, apresenta riscos para a saúde bastante significativos. Se não for tratada, pode desencadear transtornos como bulimia, além de ganho de peso, baixa autoestima e alteração metabólica do corpo, com risco de doenças crônicas como obesidade e diabetes. Por isso, o tratamento é fundamental.
Como todos os transtornos alimentares, para prevenir a compulsão alimentar é preciso fazer as pazes com a comida. "Lembre-se que não é fazendo dieta que você vai emagrecer de maneira sustentável. É preciso fazer uma reeducação alimentar", finaliza Sophie.
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