Os homens não querem mais o rótulo de machões
De braços dados com os ideais femininos de igualdade e companheirismo, muitos homens já entendem que é possível ser másculo, sem perder a ternura
Basta dar uma olhada nos lançamentos de livros, nos sites especializados ou na grade de programação de TV para ver como a temática masculina não se restringe mais a futebol, mulheres e carros. Ainda impelidos pela pressão social a manterem a postura de durões, o que os homens querem é um pouco de compreensão.
E para isso, os meninos estão em busca de compreenderem a si próprios em primeiro lugar. Pioneiro em estudar a psicologia masculina, o médico-psiquiatra e psicanalista, Flávio Gikovate já alertava, nos anos 1990, sobre as dificuldades do homem em lidar com seus sentimentos.
Em seu livro Homem: Sexo Frágil? (Editora MG Editores) Gikovate provocava ao apontar que o machismo nasce mais das fraquezas que da força ou pseudo-superioridade masculina. “O homem é capaz de construir obras monumentais e desenvolver teorias fascinantes. Mas no que diz respeito a si mesmo e à sua vida, algumas vezes age e pensa de uma forma muito precária”, descreve o psicanalista.
As novas conversas de homem
E no século XXI parece ter surgido um movimento de afirmação e aceitação dessas fragilidades masculinas. Na TV, inspirado no programa Saia Justa, o canal GNT agora apresenta o Papo de Segunda, que vai ao ar toda segunda-feira, ás 22h. O formato é de debate descontraído, revelando a postura e as dúvidas masculinas diante de temas sensíveis às mulheres como sexismo, violência contra mulheres e discriminação por gênero.
Um dos participantes do Papo de Segunda, o jornalista e escritor Xico Sá, leva o tema do homem em busca de autoajuda com bom humor. Tanto que lançou recentemente o livro Os Machões Dançaram (Editora Record), no qual aborda a mudança de comportamento dos homens nos relacionamentos contemporâneos.
Para Xico Sá, os rapazes estão mais perdidos do que nunca. Segundo o jornalista, a maioria ainda não se deu conta de que as conquistas e avanços legítimos e irrefreáveis das mulheres exigem dos homens uma mudança de comportamento também. “Não basta ‘aceitar’ os novos tempos. Não é aderindo a práticas metrossexuais que demonstramos sensibilidade isso é apenas consumismo”, afirma Xico em entrevista exclusiva à Revista da Mulher.
No livro o autor dá exemplos, em forma de humor, dos tipos de "machos" que estão perdendo o bonde, como o MacunaEmo - tem a preguiça do Macunaíma, personagem clássico de Mário de Andrade, e o chororô/mimimi de um roqueiro Emo.
“O Homem de Ossanha também é outro que dançou. É o cara que promete, promete - geralmente em conversas virtuais - e não comparece, sempre foge à luta. A inspiração para essa definição é uma música de Vinícius de Moraes e Baden Powel”, conta Xico Sá.
Xico Sá brinca que a eterna aventura do ser humano é o masculino se entender com o feminino. Para endossar sua postura, criou seu personagem e alter-ego 'Macho-jurubeba', que brinca com a "possibilidade amorosa da aventura" e também com a tragicomédia dos relacionamentos.
“O Macho-jurubeba é o macho de raiz, o macho ainda muito à moda antiga, com muitos defeitos de fábrica, um tipo um tanto quanto obsoleto, em extinção. Ele é um devoto, um romântico, um amante das fêmeas, mas tem um machismo que o incrimina e atrapalha a vida”, descreve Xico Sá.
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