Síndrome de burnout: excesso de trabalho leva à estafa profissional

Conheça os fatores que contribuem para o esgotamento físico e mental e saiba como preveni-lo, evitando consequências sérias, como a depressão

Saiba mais sobre a síndrome da estafa profissional (ou burnout) e como prevenir.


A sobrecarga de trabalho resultou em mais uma doença comum no século 21: a síndrome da estafa profissional, mais conhecida como burnout (em tradução livre, “totalmente queimado”). A síndrome interfere na capacidade de levar uma vida profissional feliz, saudável e produtiva. 

No Brasil, mais da metade dos profissionais apresentam o distúrbio, segundo uma pesquisa da International Stress Management Association (Isma). O mal também é reconhecido pela Organização Mundial da Saúde e pelas leis brasileiras como doença ocupacional.

De acordo com o Dr. Mario Louzã, médico psiquiatra e Membro Filiado do Instituto de Psicanálise da Sociedade Brasileira de Psicanálise, quem sofre de síndrome de burnout sente-se exausto, esgotado física e psicologicamente, seja por causa do número de horas trabalhadas ou pelo estresse provocado pelas condições de trabalho. 

Os conflitos frequentes com os colegas, a falta de autonomia em relação ao próprio tempo e a sensação de ter as capacidades pouco aproveitadas também contribuem para a estafa profissional. Esse estresse – que em casos extremos pode levar até à morte – é constante no dia-a-dia de quem precisa cumprir prazos curtos, demandas complexas, enfrentar avaliações de rendimento e ainda preocupação em conseguir manter-se empregado.

Por que a síndrome de burnout ocorre?

Segundo a Dra. Wilze Laura Bruscato, psicóloga e professora da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, a síndrome de burnout não aparece de repente. É necessária a presença de uma interação intensa e/ou prolongada de trabalho para que ela ocorra. Para o Dr. Louzã, o uso crescente de recursos tecnológicos e a aceleração da velocidade de comunicação também contribuíram para o aumento das horas de trabalho.

“Nestas condições, surge a exaustão, caracterizada pelo desânimo, dificuldade de raciocínio, ansiedade, preocupação, irritabilidade, sensação de incapacidade ou inferioridade, alterações do sono, diminuição da motivação e da criatividade", explica Wilze. Os pacientes que são mais atingidos, explica são os “profissionais de ajuda”, ou seja, aqueles que se envolvem diariamente com pessoas que passam por dores, sofrimentos ou dificuldades, como os profissionais da área da saúde.

Características da personalidade de cada um também são relevantes no surgimento das crises de estafa profissional. Segundo Mario, pessoas muito competitivas, ambiciosas, com dificuldade para delegar, absorvendo tudo para si, fazendo do trabalho sua única atividade tem maior chance de desenvolver exaustão. Também estão mais vulneráveis ao burnout pessoas inseguras, que necessitam de reconhecimento profissional, que têm dificuldade em colocar limites e que abrem mão de suas próprias necessidades. 

Quais são os sintomas da síndrome de burnout?

A estafa profissional apresenta sintomas físicos, psíquicos e comportamentais. Dentre os sintomas físicos, Wilze destaca:
  • Fadiga constante e progressiva, 
  • Distúrbios do sono, 
  • Dores nos músculos ou até nos ossos, 
  • Dores de cabeça, 
  • Problemas gastrointestinais, 
  • Deficiência do sistema imunológico, 
  • Transtornos cardiovasculares, 
  • Distúrbios do sistema respiratório, 
  • Disfunções sexuais e alterações menstruais (no caso das mulheres).

Os sintomas psíquicos, comportamentais e defensivos ainda englobam:
falta de atenção e/ou concentração, 
  • Alterações da memória, 
  • Confusão mental, 
  • Sentimento de solidão, 
  • Impaciência, 
  • Baixa autoestima, 
  • Depressão, 
  • Ansiedade, 
  • Tendência a trabalhar de forma cada vez mais intensa,
  • Irritabilidade, 
  • Dificuldade na aceitação de mudanças, 
  • Perda de iniciativa,
  • Perda do interesse pelo trabalho e até pelo lazer,
  • Indiferença, frieza, ironia, cinismo, entre outros.

Como tratar?

Quem sofre da síndrome de burnout se sente exausto e perde grande parte do interesse em sua relação com o trabalho, de forma que as coisas deixem de ter importância e qualquer esforço pessoal pareça inútil. Esses sintomas já são sinais de que é necessário buscar auxílio médico especializado para avaliação do quadro e orientação quanto ao tratamento. 

Para evitar as consequências da estafa profissional, que incluem o uso de drogas (álcool, tabaco, além das drogas ilícitas) como forma de alívio, o aparecimento de tensões musculares, gastrite nervosa, problemas cardíacos, depressão e ansiedade, é importante iniciar o tratamento. Segundo Mario, ele é basicamente psicoterápico, mas pode ser intercalado com o uso de medicamentos.

Previna a estafa profissional

Confira abaixo as dicas da Dra. Wilze  e do Dr. Mário para lidar com as condições adversas no ambiente de trabalho:

  • É importante descansar fisicamente e mentalmente. O equilíbrio entre o trabalho e as atividades de lazer é o primeiro passo para a prevenção;
  • Avalie os fatores que causam estresse e desenvolva estratégias apropriadas para lidar com eles;
  • Repense a rotina de trabalho, estabelecendo prioridades e limites para si mesmo;
  • Desenvolva mecanismos de enfrentamento e reformulação saudáveis de como lidar com os aspectos da rotina que não podem ser alterados;
  • Valorize o papel da família, do lazer e da cultura geral;
  • Invista na formação/capacitação para ter mais segurança ao desenvolver o trabalho e mais identificação com a função;
  • Adote atitudes positivas que impliquem numa valorização pessoal e resgate da autoestima;
  • Comprometa-se com o trabalho, refletindo sobre o valor social do mesmo e dando significado às atividades ligadas a ele.

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