Virei madrasta, e agora?
Cada vez mais comum na formação das chamadas novas famílias, o papel da madrasta está bem longe do representado nos contos infantis
Entre a postura de vilã, apresentada em grande parte das fábulas, contos de fadas e histórias de princesas que permeiam a literatura infantil, e o real papel da madrasta no dia a dia da sociedade existe uma grande diferença. Cada vez mais comum na formação das chamadas novas famílias, as mulheres têm assumido a nem sempre fácil tarefa de conviver com os filhos de seus companheiros.
A psicanalista e terapeuta de família Roberta Palermo estudou essas relações tão delicadas. Segundo a especialista, existe um sentimento de dicotomia: a mulher tanto pode encarar bem a convivência da criança com o pai ou pode sofrer. Seja por não ser a primeira a dar um filho para o homem que ama ou, por vezes, não suportar ver enteados com hábitos da ex-mulher do atual companheiro.
E até a semelhança física com a mãe da criança pode incomodar. Para ajudar as mulheres a compreenderem e lidarem com a condição de madrasta, Roberta lançou dois livros sobre o tema: Madrasta - quando o homem da sua vida já tem filhos (Editora Mercuryo) e 100% Madrasta - Quebrando as barreiras do preconceito (Editora Integrare).
Ciúme dos enteados
Em seus livros a terapeuta toca em um dos pontos mais importantes da relação madrasta-enteado: o ciúme. “Ciúme é um sentimento que não se controla e, para conviver com ele, a Madrasta tem que se policiar. Ser racional e lutar contra os pensamentos absurdos que aparecem”, ensina Roberta.
Para a terapeuta, se a criança não sai do colo do pai, basta lembrar como foi sua própria infância. A madrasta deve questionar se ela mesma teve um pai presente. “Se teve, foi muito bom, guarda boas lembranças e deve desejar essa mesma experiência para os enteados”, diz Roberta. Se não teve um pai presente, a madrasta sabe que ficou um vazio e deve vibrar pelo fato seu companheiro ser um bom pai.
Ser madrasta sem pesadelo
Para as mulheres que ainda tremem só de pensar em precisar encarar os filhos do marido - e tudo o que vem com o 'pacote', como a convivência com a ex-mulher, os valores e educação distintos etc - a terapeuta sugere o compartilhamento. Principalmente quando há guarda compartilhada e o filho do marido estará com frequência na casa.
Há fóruns de discussão e até grupos de apoio nos quais é possível debater as experiências de madrasta. "Ao trocar experiências, a mulher sente-se menos culpada com os ciúmes ou mesmo uma sensação natural de rejeição aos enteados. O peso em cima do arquétipo da madrasta é muito grande. É preciso aliviar este peso", lembra Helena Monteiro, psicóloga especializada em terapia de família.
Segundo a especialista, existem alguns comportamentos básicos a serem colocados em prática na convivência com os filhos do companheiro:
- controlar o ciúme;
- aceitar a diferença de educação, mas deixar claro à criança quais são as regras na sua casa;
- nunca discutir com o companheiro na frente da criança;
- nunca falar mal da mãe na frente da criança;
- sempre que for discutir com o marido sobre problemas com os filhos dele, esteja calma e tente usar a razão;
- trate sempre as crianças com afeto. Mesmo quando eles não estão se comportando como deveriam. Lembre-se que crianças testam autoridade e o equilíbrio emocional dos adultos.
Famílias mosaico e a madrasta
As relações surgidas com o novo casal, que já tem filhos do primeiro casamento do marido e às quais se juntam filhos, enteados, irmãos, madrasta, padrasto, ex-esposo, ex-esposa e avós , são chamadas de família mosaico.
Segundo dados do último Censo, realizado em 2010 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), estas famílias reconstituídas são cada vez mais frequentes no cenário nacional. A madrasta tem sido peça-chave na formação deste tipo de família plural e é preciso conviver com essa realidade cada vez mais próxima.
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