Precisamos falar sobre depressão na adolescência
Sucesso da série "13 Reasons Why" (ou "Os 13 Porquês") e do jogo da Baleia Azul traz à tona a questão da melancolia e solidão entre os jovens

Traduzida em números frios, a depressão na adolescência é uma realidade sombria. De acordo com o estudo Levantamento Nacional de Álcool e Drogas, realizado pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), foram encontrados sintomas indicativos de depressão em 21% dos jovens entre 14 e 25 anos.
O estudo aponta ainda uma tendência de forte aumento nas tentativas de suicídio no universo dos oito aos 17 anos. Os dados estatísticos são a representação de uma realidade tocante: nossas crianças estão cada vez mais tristes. E os pais parecem estar cada vez mais perdidos.
Depressão não é tristeza
Afinal, como lidar com a depressão na adolescência, fase na qual, apesar das dificuldades, é aquela que deveria estar permeada de sonhos e interação entre amigos? Com o aumento dos casos, os pais se preocupam e muitas vezes se questionam sobre como identificar, agir, tratar e prevenir a depressão na adolescência.
"Para achar as repostas, antes de tudo, precisamos aprender a diferença entre tristeza e depressão, tendo consciência que a primeira é um sentimento e a segunda é uma doença", Por Juliana Bento, psicóloga da Clinica Fares.
Reconhecida e descrita pelo Código Internacional de Doenças (CID- 10), a depressão pode surgir em qualquer idade, sem precisar necessariamente de motivo e causa intenso sofrimento. Ela costuma estar relacionada à tristeza.
Mas seus sintomas mais agressivos costumam ser o desânimo e a falta de energia ou de interesse até mesmo por atividades consideradas prazerosas. A depressão na adolescência costuma ser ainda mais perigosa, em função do aspecto dos sentimentos serem mais intensos desta fase.
Depressão na adolescência e os riscos de suicídio
Recentemente, foi lançada no Brasil uma série americana baseada no livro Thirteen Reasons Why (Os 13 porquês), a qual aborda o tema suicídio na adolescência. O sucesso de audiência foi tanto que provocou bastante discussão sobre o assunto na web e fora dela.
Para psicóloga clínica Ana Café, é preciso pensar e identificar por que a juventude, fase mais exuberante da vida, encontra-se tão vulnerável ao suicídio. O que justificaria uma ausência de satisfação, um desânimo e desinteresse tão grandes que fazem com que a vida e o viver percam o sentido?
"A adolescência é a fase da vida na qual passamos pelas maiores mudanças físicas, emocionais e comportamentais. Os laços de afeto e de confiança vão sendo estabelecidos por agentes externos e assim jogos, como a Baleia Azul ou processos de bullying vão tomando um vulto muito maior do que tomariam em outras fases", explica Ana.
O jogo da internet Baleia Azul, um game virtual que teria várias tarefas a serem executadas, e, entre elas, matar e cometer suicídio, é outro convite ao enfrentamento desta verdade alarmante: crianças e adolescentes também sentem dores emocionais, padecem de depressão, sofrem com o abandono e não se satisfazem com ganhos materiais.
Como tratar a depressão na adolescência
É fundamental que a qualquer sinal da doença ou até mesmo de uma tristeza persistente, os pais busquem auxilio de um especialista. "A depressão na adolescência tem sintomas que, às vezes, são confundidos com comportamentos característicos da fase", reforça a psicóloga da Clínica Fares.
As escolas e os professores também devem estar atentos aos sinais. É comum, nos casos de depressão na adolescência, o jovem manter uma postura superficialmente estável na presença dos familiares e um comportamento mais instável na escola. Caso isso aconteça, a instituição de ensino deve comunicar os responsáveis, pois essa atitude é fundamental para ajudar o jovem em questão.
Outro aspecto importante a ressaltar é que os pais não devem se sentir culpados em casos de depressão de seus filhos e sim concentrarem-se no processo de cura. Até porque não existem regras ou causas específicas para uma doença como a depressão.
"A depressão é uma doença causada por fatores desde externos, ou seja, situações e experiências de vida, até fatores biológicos, como alterações hormonais, genéticas ou alteração na produção de neurotransmissores, que são responsáveis pela comunicação neural com nosso sistema límbico, responsável por nossa resposta emocional", completa a psicóloga.
Presença dos pais contra depressão na adolescência
E no fim das contas, a regra mais antiga da educação infantil continua sendo o melhor antídoto contra a depressão na adolescência: a presença afetiva, acolhedora e que propõem limites dos pais. Segundo a psicóloga do Hospital e Maternidade São Cristóvão Saúde, Aline Melo, é esta relação de base que vai gerar benefícios duradouros.
"Aos pais, digo que quando se propuserem a estar com seus filhos, que realmente estejam, que tentem deixar de lado celulares ou preocupações externas para realmente ouvi-los, conhecer seus gostos, saber da escola, das amizades, das dúvidas", orienta Aline.
Reforçar os laços, descobrir afinidades e se aproximar da criança ou do adolescente, gera um relacionamento de confiança e de conhecimento em relação a seu filho. Além de abrir um espaço para que o próprio filho procure os pais, caso queira compartilhar um problema. E isso não deveria ser somente para prevenir depressão na adolescência, e sim ser o lema de pais e filhos.