Identidade de gênero: é preciso saber lidar quando a questão começa na infância

Diferente da orientação sexual, a identidade de gênero acontece quando o corpo biológico não corresponde à identidade sexual psíquica 

Cena do filme francês 'Minha Vida em Cor de Rosa', que trata da questão de identidade de gêneros.


Muito em voga, a questão de identidade de gênero tem começado a ser discutida entre educadores, psicólogos e juristas no Brasil. Por definição, a identidade de gênero é a maneira pela qual o indivíduo se apresenta para si e perante a sociedade, independente de sua condição biológica. 

Em outras palavras, trata-se de quando a criança nasceu com anatomia física contrária à sua identidade sexual psíquica. Também é bem diferente da chamada orientação sexual, nome usado para definir a condição dos homoafetivos: pessoas que se atraem e se relacionam com parceiros do mesmo sexo. 

Na orientação sexual, um homem ou mulher sente-se bem no corpo masculino e feminino respectivamente, mesmo atraindo-se por pessoas do mesmo sexo. Já na identidade de gênero, o indivíduo carrega uma constante crise pessoal por sentir-se feminino em um corpo de homem ou, ao contrário, masculino em um corpo de mulher.

De acordo com especialistas, a crise de identidade de gênero pode começar desde a infância e tem raízes nos estereótipos sociais. “O processo de socialização de gênero começa na gravidez, quando se define a cor do quarto e as roupas para meninos e meninas. E se estende por todas as demais etapas da vida: carrinho e bola para os meninos; boneca e panelinhas para as meninas”, lembra Camila Aloísio Alves, psicóloga e professora da Faculdade de Medicina de Petrópolis.

Identidade de gênero na sociedade

Tema ainda tabu em pleno século XXI, a questão da identidade de gênero já faz parte da sociedade. Entre as celebridades, um exemplo é Thammy Miranda. O ator nasceu com o sexo feminino, mas nunca sentiu-se bem no corpo de mulher. 

Hoje ele adquiriu o direito à identidade masculina. Em janeiro deste ano (2016), pela primeira vez no país, a justiça brasileira determinou a mudança na identidade de gênero de uma criança.

Trata-se de um menino de nove anos, do estado de Mato Grosso, que recebeu o direito de mudar sua identidade de gênero. A sentença do juiz permitiu a alteração para um nome de menina no registro de nascimento, assim como a substituição no campo de sexo de masculino para feminino.

“O incômodo da sociedade em relação à identidade de gênero está muito ligado à dificuldade de lidar com as diferenças. Vê-se como aberrações um menino brincando de boneca ou uma menina não querendo usar vestidos. Mas isso existe, faz parte do gênero humano”, comenta a psicóloga e terapeuta de família Helena Monteiro.

Família, escola e justiça unidas

A especialista acredita que medidas como o do juiz de Mato Grosso e a exposição da questão de identidade de gêneros de pessoas famosas servem para ajudar os pais a lidarem melhor com a questão quando seus filhos a apresentam.

No caso do menino de Mato Grosso, foi a própria escola que percebeu e chamou os pais para conversar. A partir dali, em parceria, pais e educadores conduziram todo o processo.  

A criança, assistida por familiares, foi encaminhada ao Ambulatório de Transtorno de Identidade de Gênero e Orientação Sexual do Núcleo de Psiquiatria e Psicologia Forense, do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP/SP. 

Lá, depois de acompanhamento, o menino recebeu o diagnóstico de transtorno de identidade sexual na infânciaAté conseguir na justiça o direito de ser menina, levou quatro anos. 

“Mas já é um começo. Um avanço para quebrar padrões arraigados de códigos comportamentais relacionados aos gênero. E ajudar a moldar uma sociedade em que as pessoas tenham mais direito à felicidade”, completa a terapeuta familiar.

Copyright foto: Reprodução YouTube

Veja também
Este documento, intitulado 'Identidade de gênero: é preciso saber lidar quando a questão começa na infância', está disponível sob a licença Creative Commons. Você pode copiar e/ou modificar o conteúdo desta página com base nas condições estipuladas pela licença. Não se esqueça de creditar o A revista da mulher (www.arevistadamulher.com.br) ao utilizar este artigo.