Palavra de chef: Entrevista com Carla Pernambuco
Mestre em descomplicar receitas em programas na TV e na web, uma das cozinheiras mais proeminentes do Brasil fala de sua trajetória e dá dicas para quem quer se aventurar na cozinha
Quem acompanha programas culinários nos canais pagos da televisão a cabo provavelmente já ouviu falar em Carla Pernambuco. Referência em cozinha brasileira, a chef gaúcha ganhou a simpatia do público ao apresentar no extinto programa Brasil no Prato, da Fox Life, receitas descomplicadas e inspiradas em tesouros da cultura gastronômica nacional - sempre com uma boa dose de bom-humor.
Em seus mais de 20 anos de experiência na cozinha, Carla aprendeu a aliar vocação e pesquisa constante para tornar a culinária profissional acessível para todos. Com oito livros lançados sob seu nome, a chef hoje se divide entre os compromissos como empresária e sócia proprietária do restaurante Carlota e do Estúdio Carla Pernambuco, ambos em São Paulo, e como apresentadora de dois programas do canal Discovery Home & Health (Com Que Receita Eu Vou e Cozinhando no Supermercado) e de seu próprio canal de receitas no YouTube, chamado Boca a Boca.
Depois das temporadas na televisão, foi justamente na web que a chef encontrou espaço para continuar se reinventando na cozinha e ainda sem perder o contato com o público. Cozinheira multimídia, Carla conversou com A Revista da Mulher para contar um pouco de sua trajetória e aproveitou para dar dicas para quem quer se aventurar na cozinha - de preferência, seguindo suas receitas, claro.
Entrevista com a chef Carla Pernambuco
A Revista da Mulher: Você se formou em Comunicação muito antes de entrar na carreira de chef. De onde surgiu seu interesse pela gastronomia e, em especial, pela cozinha legitimamente brasileira?
Carla Pernambuco: Descendente de italianos por parte de pai e mãe, minha relação com a cozinha e a boa mesa não tinha como ser diferente. É cultural. A isso se soma, além de uma excelente orientação, a vocação. A cozinha clássica e alquímica sempre me fascinaram. Uma cozinha onde o erro é o aprendizado e a pesquisa é fundamental. Passei parte da minha vida lidando com muita naturalidade com a culinária prática, do dia-a-dia, sem sequer, me dar conta da facilidade com que lidava com isso.
No meu foco pessoal, a cultura é imprescindível e, assim, trilhei pelo teatro, assessorias de comunicação, projetos artístico-culturais, até mergulhar profissionalmente, na culinária cultural. Eu estava em New York, uma babilônia cultural, onde representantes de todo o mundo imprimem seus legados. Promover a pátria-mãe e sua diversidade foi uma escolha natural. O Brasil é - também - uma babilônia de povos, culturas e costumes, cenário rico e cheio de possibilidades. Ao voltar [nos anos 1990], participei ativamente, com um grupo de chefs afinados, na construção da identidade de uma culinária brasileira contemporânea.
RDM: Em 2011, você estreou seu primeiro programa na televisão, o Brasil no Prato. Nele, você apresentava a diversidade da culinária brasileira aliada a referências de outras cozinhas do mundo todo. Como foi sua transição da cozinha para a televisão? E qual foi seu grande desafio nesse processo?
Carla Pernambuco: Foi uma coisa natural, vi a oportunidade, entendi como pertinente, participei de uma seleção, fui contemplada e, nessa mídia, continuei meu trabalho. O grande desafio foi fazer tudo isso caber na minha agenda sem comprometer a qualidade do que estava em andamento. Rebola daqui, malabarismo dali e aqui estamos nós, com espaço na mídia e casa cheia.
RDM: Ao longo de sua carreira, você acabou se aproximando do conceito da cozinha simples, especialmente na linha em que apresentava na TV e hoje mostra em seu canal pessoal no YouTube. Você acredita na democratização da gastronomia justamente através da demonstração do passo-a-passo de diversas receitas?
Carla Pernambuco: Acredito que o fato das pessoas aprenderem a comer bem, ter mais intimidade com a cozinha, desmistificando sem banalizar, além de promover culturalmente a boa culinária, habilita o publico a promover uma maior qualidade de vida. Esse é o papel da cultura. E cada vez mais mesmo olhando do ponto de vista comercial, o fato das pessoas cozinharem melhor, não diminui seu interesse por fazer refeições em bons restaurantes. Eu sou prova disso - teoricamente não necessitaria ir a outros restaurantes, no entanto, adoro conhecê-los, faço visitas frequentes e sou fã de muitos.
RDM: Com seu canal Boca a Boca, você aproximou ainda mais a chef Carla Pernambuco do público e mostrou um lado mais cotidiano de sua cozinha, com direito até ao quadro de perguntas e respostas dos internautas. Nesse sentido, qual é a importância de se desmistificar a gastronomia de chef para o grande público?
Carla Pernambuco: O Canal Boca a Boca tinha - realmente - essa intenção, disponibilizar a cozinha no mundo da acessibilidade. Conquistar corações e estimular o despertar da vocação que muitos tem sem se dar conta. Desmistificar é o trabalho dos cientistas. Os místicos não gostam. Na realidade, não tem truque nem magia, tem sim, projeto, organização, higiene, método e muita vontade (desejo).
RDM: Você acha que o brasileiro aprendeu a se interessar pela própria cultura culinária?
Carla Pernambuco: Cada vez mais e não apenas pela culinária, é mais que isso, trata-se do crescente orgulho pela identidade cultural.
RDM: O que mais gosta da cozinha brasileira? Qual(is) seu(s) prato(s) favorito(s)? Pode compartilhar alguma receita com nossos internautas?
Carla Pernambuco: Gosto da diversidade, da exoticidade dos ingredientes, das diversas forma de fazer, das técnicas ancestrais dos povos que aqui viviam e dos povos que pra cá vieram. Há muito tempo deixei de ter um prato favorito, gosto de criar, amo a próxima criação. Quanto a compartilhar receitas, faço isso o tempo todo, nas redes sociais, nos meus livros, nos programas de TV, na web, na radio. São centenas! O que acham dessa de suflê de goiabada com catupiry (clique aqui para ver a receita)?
RDM: Qual conselho daria para quem está começando a se aventurar na cozinha?
Carla Pernambuco: Para os amadores, não tenham medo de errar, respeitem a receita que vão praticar e só inventem depois de terem domínio. Para os que acham que a cozinha profissional é o caminho, tenham conhecimento de mercado, de legislação, de tributação, das leis trabalhistas. Tenham certeza de que é uma vocação, pois vão precisar de perseverança, dedicação e muito estudo!
Copyright fotos: Paula Carrubba / Divulgação
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