Chikugunya: saiba por que a doença pode ser pior que dengue

Dores no corpo que podem durar até um ano e sequelas graves nas articulações fazem da Chikugunya a pior doença causada pela picada do mosquito Aedes Aegypti.

Chikungunya leva a sequelas como artrite e epidemia pode ser pior que a de dengue.


A ineficiência no combate à proliferação do mosquito Aedes Aegypti no Brasil têm deixado sequelas em relação à saúde pública da população. A epidemia de dengue, que teve início ainda na década de 1990, ainda se estende e a mordida deste perigoso mosquito agora faz vítimas com outras duas graves doenças: zika e chikungunya.

A chikungunya apresenta-se com sintomas semelhantes aos da zika e dengue: começam, de repente, febre alta (em torno de 39ºC), dor nas juntas, dor de cabeça e manchas vermelhas pelo corpo. A grande diferença, porém, são as dores nas articulações e não dores musculares, como acontece no caso da dengue.

Não tem remédio

A maior parte dos pacientes recupera-se em 10 dias, mas, em alguns casos, as dores nas articulações podem persistir, ou mesmo ressurgir, por meses. Foi o que aconteceu com a bióloga Márcia Cardoso, 47 anos.

"Eu fiquei boa da febre e me sentia bem. Voltei a trabalhar e aí tive uma recaída. Não conseguia andar, cada movimento do corpo era uma tortura. E o pior é que os médicos ainda não sabem como tratar esses sintomas. Recorri a terapias naturais, mas a dor é muito forte", conta Márcia.

A bióloga consultou um reumatologista, mas ouviu do médico que ele não poderia receitar remédios que receita a pacientes com artrite ou artrose – que apresentam sintomas semelhantes aos de pacientes com chikungunya. 

O motivo da não-prescrição é o fato de ainda não existirem estudos clínicos suficientes para confirmar o risco de interação medicamentosa do vírus com os remédios para artrite. A reportagem de A Revista da Mulher procurou o médico que atendeu Márcia, mas ele preferiu não dar entrevista.

O problema maior desta doença transmitida pelo Aedes Aegypti são as sequelas. O nome chikungunya significa, em dialeto da Tanzânia,  'aquele que se dobra', justamente pelo fato de fazer as pessoas se contorcerem de dor. Em pessoas acima de 45 anos, o vírus pode trazer consequências como inflamação nos tendões e artrite reumatoide.

"Até o momento não há tratamento antiviral específico contra a chikungunya. A terapia utilizada é normalmente feita através de analgésicos, hidratação e repouso", diz o Dr. Marcelo Pacheco, reumatologista do Centro de Imunoterapia de Ipanema.

Chikungunya pior que dengue

Caso o paciente desenvolva atrite reumatológica crônica após a chikungunya, é preciso primeiro detectar se o vírus já não está mais manifesto no organismo. Através de exame de sangue, que precisa ser feito regularmente, o médico poderá prescrever remédios anti-inflamatórios e corticoides.

Uma iminente epidemia de chinkugunya preocupa especialistas em medicina sanitarista. Em sua página na internet, o célebre médico Drauzio Varella levantou a preocupação com a falta de preparo do sistema de saúde brasileiro para tratar pacientes com chikungunya. 

Isso porque enquanto para cada caso de dengue sintomática, existem 3 ou 4 pessoas que não desenvolveram os sintomas da doença. Já em se tratando da chikungunya, cerca de 80% das pessoas picadas pelo mosquito transmissor desenvolvem os sintomas, diz o médico. 

As dores nas juntas são persistentes e isso obriga os pacientes a procuraram o sistema de saúde, por que quem está com dor vai procurar ajuda médica. E o Brasil estaria ainda despreparado para atender os casos de pessoas com dores articulares.

"É preciso que haja um  programa de tratamento definido por fisioterapeutas e reumatologistas para tratar a doença. Quando a chikungunya se estabelecer no país o sistema de saúde ficará sobrecarregado”, alerta Drauzio Varella.  

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