Afinal, para que serve o amor?

Sentimento mais almejado da humanidade é na verdade bastante complexo. E na prática do relacionamento a dois, nem tudo são flores

Sabemos para que serve um relacionamento amoroso? © iStockphoto.com/GeorgeRudy

Amar e ser amado. Este é, e sempre foi, um dos maiores desejos da humanidade. O amor, este sentimento sublime capaz de fazer o corpo produzir serotonina (o chamado hormônio da felicidade) sempre esteve na mira de filósofos, escritores, músicos, psicólogos e cientistas em geral. De Platão à Shakespeare, de Chico Buarque  a Freud, o amor está no ar. Mas a pergunta que jamais foi respondida: afinal, para que serve o amor

A questão é levantada especialmente por conta do sofrimento que o fim de um relacionamento causa. "Após a ruptura de uma relação amorosa, aquilo que produzia a sensação de felicidade dá lugar à dor. Nessas horas, é muito comum a negação do sentimento amoroso. A frase 'nunca mais vou amar de novo' é clássica nos momentos de desilusão", conta a psicóloga e especialista em terapia de casal, Helena Monteiro.

Para que serve um relacionamento amoroso?

Segundo a psicóloga, este sentimento de perda acaba levando muitas pessoas a distorcerem a função do amor. Passam a entrar nos relacionamentos em uma posição defensiva. Ou pensam somente nos problemas que todos casais enfrentam. "Esquecem que a finalidade essencial do amor na relação a dois é simplesmente tornar a vida mais fácil e leve", completa Helena.

A questão é tão intrigante que o médico cancerologista, escritor e apresentador de TV Drauzio Varella fez um texto há cerca de 10 anos, que até hoje é um verdadeiro sucesso na internet e redes sociais. Nele, o Dr. Drauzio discorre sobre como deve ser simples uma relação para que ela dê certo.

Mas, por incrível que pareça, muitos casais sentem dificuldade justamente de porem em prática o que é mais simples. Para a Camila Aloísio Alves, psicóloga e professora da Faculdade de Medicina de Petrópolis, essa dificuldade tem raízes na falta de contato consigo mesmo. O famoso autoconhecimento.

"Com pouco trabalho interior, a grande maioria das pessoas entra nas relações e as vivem na busca inconsciente de resolver questões próprias. Mas uma relação deve servir para o que é simples, para construir e não para suprir os espaços dos nossos traumas e faltas existenciais", alerta a psicóloga.

Não sabemos amar

Em um dos trechos do famosos texto do Dr. Drauzio, ele afirma que uma relação amorosa serve, entre tantas outras coisas, para nos sentirmos 100% à vontade com o parceiro. E isso incluiria falar das insatisfações e poder dizer sim e poder dizer não com a mesma facilidade, sem causar brigas entre os casais ou quaisquer outras suscetibilidades.

Mas para a psicóloga e psicanalista do Rio de Janeiro, Dóris Zuniga Janoni, isso é uma utopia. "Ninguém sabe amar. O nosso amor é muito imperativo, muito cobrador. Do tipo 'só gosto de você enquanto você satisfizer as minhas vontades'. E eu não sei se a gente aprende, porque, como ninguém sabe amar, os modelos vão se repetindo", diz a especialista.

Para a psicanalista, enquanto o amor for tratado como um modelo de barganha para satisfazer necessidades muitas vezes primitivas (questões de relacionamento mal resolvido com os pais ou ex-cônjuges) os relacionamentos amorosos tendem a continuarem como fonte de sofrimento, quando deveria ser  de prazer.

"Enquanto, nos relacionamentos amorosos, agirmos como se o outro é o responsável tanto por minha felicidade e êxtase como pela minha infelicidade e frustração, encontraremos dificuldades nas relações amorosas", reforça Dóris.

Amar sem esperar nada em troca. É possível?

A especialistas cita Jesus Cristo, que independente de questões religiosas,  é a figura histórica que melhor aproximou-se de uma definição prática deste nobre sentimento: dar amor, sem esperar nada em troca. "Mas talvez isso não seja para nós, humanos", complementa Dóris.

Isso não quer dizer, porém, que não devemos continuar tentando. Afinal, ao amor romântico, é quase impossível resistir. "Proponho que as pessoas façam um polimento e não cobrem tanto do amor e nem reajam tão mal quando algo não cumpriu suas expectativas", incentiva a psicanalista.

Para a psicóloga, talvez a vivência seja a única forma de nos aproximar um pouco mais desta condição de saber amar. E na questão do amor, evoluir é antes de tudo, compreender a si mesmo para entrar mais preparado nas relações com o outro.

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