Cirurgia bariátrica: conheça os diferentes tipos e suas indicações
Atualmente estão disponíveis opções diferentes para se realizar a também chamada gastroplastia, o que possibilita melhor adaptação a cada caso
A obesidade é um problema mundial. A própria Organização Mundial da Saúde (OMS) tem emitido diversos alertas sobre o aumento dos casos. Para mudar esta realidade, alternativas como a cirurgia bariátrica tronam-se grandes aliadas. Somente em 2015 foram realizadas 93,5 mil cirurgias desse tipo no Brasil, número 6,25% maior do que no ano anterior (88 mil).
Segundo a OMS, a projeção é de que, até 2025, aproximadamente 2,3 bilhões de adultos estejam com sobrepeso, enquanto outros 700 milhões devem ser classificados como obesos no mundo.
O que é cirurgia bariátrica
O procedimento de cirurgia bariátrica é a forma popular de se nomear a gastroplastia, que nada mais é do que uma cirurgia de redução do estômago, realizada com o objetivo de tratar pessoas extremamente acima do peso. A verificação da obesidade extrema começa com o cálculo do Índice de Massa Corporal (IMC).
O IMS é encontrado ao se dividir o peso (em quilos) pela altura (em metros) ao quadrado. Se o valor encontrado for menor que 20, indica peso muito baixo; entre 20 e 25, o peso é ideal; entre 25 e 30 indica sobrepeso peso; e maior que 30 a pessoa já é considerada obesa.
De acordo com o médico Leonardo Salles, especialista em cirurgia bariátrica e vídeolaparoscópica, existem hoje diversas opções para a realização deste procedimento. E os tipos de cirurgia bariátrica mais comuns no país são:
- Gastroplastia tipo Sleeve. este caso, opera-se somente o estômago, diminuindo seu tamanho. Com isso, sua capacidade de receber comida será restringida. Perde-se em média 30% a 40% do peso com este procedimento.
- Gastroplastia tipo Bypass. Neste procedimento, além do componente restritivo da diminuição do estômago, cria-se também uma espécie de atalho no intestino, que cumpre um papel de não absorção do bolo alimentar, levando a uma perda entre 40% e 60% do peso.
Por tratarem-se de intervenções mais invasivas, os dois tipos de gastroplastia são realizados apenas como a última maneira de perder peso. Ou seja, nos casos em que outros métodos de redução de peso já foram testados, mas o paciente não apresentou resultados significativos.
Outra opção considerada menos invasiva são os procedimentos endoscópicos com balões intragástricos, com duração de seis e doze meses. Nestes caso, as perdas giram em torno de 20% a 30% do peso.
Entre estas opções, o especialista destaca que duas têm maior aderência por parte dos pacientes. “Hoje operamos mais pela técnica de Sleeve, por causar menos complicação metabólica a longo prazo. Endoscopicamente, utilizamos mais os balões com duração de 1 ano do que 12 meses ”, explica o Dr. Salles.
Como a cirurgia bariátrica trata a obesidade?
Conforme explica Salles, os procedimentos bariátricos são capazes de criar uma janela terapêutica (intervalo de tempo para aplicação de outras técnicas capazes de tornar a perda de peso efetiva). Para realizar uma cirurgia deste tipo, o paciente recebe suporte de equipe competente.
Um cirurgia bariátrica exige muito mais do que o bisturi e envolve:
- orientação de reeducação alimentar;
- psicoterapia;
- e programa de atividade física.
"É muito importante entender que perder peso e combater a obesidade são coisas diferentes. Ao paciente da cirurgia bariátrica não bastará emagrecer: é preciso se tratar”, diz o médico
A duração do procedimento apresenta variações de acordo com o tipo de cirurgia escolhido. “Um Sleeve leva em torno de 90 minutos e um Bypass em torno de 120 minutos, lembrando que o paciente fica internado entre dois a três dias. Já um implante de balão dura em torno de 25 minutos e o paciente retorna para casa cerca de uma hora após o procedimento”, explica o R.Salles.
Para quem é indicada a cirurgia bariátrica?
O cirurgião lembra ainda que a definição do tipo de cirurgia bariátrica a ser feita depende de cada paciente. “Para quem tem IMC maior que 40, ou entre 35 e 40 mas com doenças associadas que podem melhorar com a perda de peso, as opções Sleeve e o Bypass estão ok. ”, comenta o especialista.
Já o balão intragástrico tem sua melhor indicação para pacientes com IMC acima de 27 e menor que 35. Mas nada impede que os pacientes com IMC maior e que não desejam realizar a cirurgia também adotem este procedimento menos invasivo.
O especialista explica que os procedimentos endoscópicos são contraindicados em pacientes classificados com:
- Risco anestésico ASA IV: paciente com histórico de infarto agudo do miocárdio e AVC a menos de seis meses, paciente com angina de peito instável, diabéticos não controlados, insuficiência hepática, renal ou pulmonar avançada;
- Hipertensão portal: hipertensão na veia porta e filiais;
- Varizes esofagogástricas: dilatações das veias do terço inferior do esôfago;
- Limitação intelectual significativa em pacientes sem suporte familiar adequado;
- Quadro de transtorno psiquiátrico atual não controlado, assim como o uso de álcool ou drogas ilícitas.
Preparação e recuperação do paciente
Por tratar-te de um procedimento irreversível, Salles afirma que os cuidados são intensos na cirurgia bariátrica. É feito ainda um acompanhamento psicológico, nutricional, endocrinológico, cardiológico, além dos exames laboratoriais e de imagem.
"No caso do balão intragástrico esta etapa é mais simples, pois o tratamento pode ser interrompido a qualquer momento, mantendo os preparativos comuns a da realização de uma endoscopia”, explica o médico.
No caso do pós-operatório o especialista destaca os avanços alcançados nos últimos tempos. “A recuperação nas cirurgias tiveram uma grande melhora em termos de conforto com a mudança para cirurgia videolaparoscópica, sendo hoje relativamente confortável seu pós-operatório”, ressalta.
O cirurgião lembra que o tempo de recuperação é de:
- 10 a 15 dias para atividades leves;
- e de dois meses para atividades físicas.
“O Balão tem sua recuperação ligada ao período de adaptação do balão. Em média, essa adaptação leva de 3 a 5 dias. Após este período, o paciente está liberado para suas atividades”, orienta o médico.
Sobre a eficácia destes procedimentos, o especialista volta a reforçar a importância de lidar com o problema de maneira mais ampla. “É extremamente importante entender que para o real tratamento da obesidade não é suficiente apenas a perda do peso: a causa do ganho de peso tem que ser abordada e tratada”, afirma.
O paciente deverá adaptar-se à nova realidade, e isso inclui mudar os hábitos alimentares (comer menos e melhor). Leonardo Salles destaca ainda que para isso é preciso garantir um bom programa de psicoterapia, de reeducação alimentar e de atividade física.
“Esse realinhamento de estilo de vida é fundamental para realmente tratar a obesidade de forma permanente”, conclui o médico.
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