Fobia social: quando o contato com o outro gera sofrimento

Transtorno de Ansiedade Social pode prejudicar os mais diversos aspectos da vida e levar ao surgimento de outras doenças

Fobia Social
Se não for tratada, a fobia social pode trazer sérios problemas para a vida da pessoa.

É muito comum encontrar pessoas que preferem evitar um contato mais direto com os outros, seja no trabalho, na escola ou em qualquer outro ambiente. Na maioria dos casos trata-se apenas de timidez ou introspecção. Mas quando interagir com os outros gera sofrimento para o indivíduo, especialistas alertam que pode se tratar de Transtorno de Ansiedade Social ou simplesmente  fobia social.

De acordo com a psicóloga Marilane Resende, a fobia social é um conjunto de sintomas, que podem variar de uma pessoa para outra. Em geral, o distúrbio surge quando o indivíduo se relaciona com outros, ainda que seja um pequeno grupo.

“Não é o medo de estar diante de muitas pessoas, mas sim uma fobia por se relacionar mesmo com um, dois ou mais indivíduos”, explica. A psicóloga destaca alguns comportamentos relacionados à fobia social.

Um deles é quando não se consegue namorar mesmo quando se está interessado em alguém e é correspondido, com tendência a desenvolver amor platônico.

“Outro exemplo é quando a pessoa não dá conta de conversar com alguém que ela acredite estar em uma posição de superioridade. Como um chefe, por exemplo”, diz a psicóloga.

Sintomas da Fobia Social

Marilane Resende afirma que o principal sintoma é a reclusãoO indivíduo passa a evitar encontrar as pessoas. “Geralmente acontece mesmo antes do contato direto, através de uma crise de ansiedade que pode surgir em graus diferentes", explica.

A especialista destaca alguns sintomas mais frequentes. Em maior ou menor grau, dependendo de cada caso, a fobia social manifesta-se da seguinte forma:

  • tremores;
  • suor excessivo;
  • rubor de face;
  • manchas vermelhas na pele;
  • dificuldade para falar.

A psicóloga explica que todos estes sintomas ocorrem, de modo geral, em decorrência do medo de ser julgado por aquela pessoa ou os demais. Em outras palavras, seria como se houvesse um permanente receio de passar por uma situação vexatória ou humilhante.

"A pessoa já pensa, antes mesmo do momento acontecer, que as coisas não vão sair bem, que ela não conseguirá falar, que não estará vestida adequadamente. Ou que o outro irá julgar sua inteligência, aparência etc...”

Fobia social não é timidez

Nos casos mais graves, ainda de acordo com a psicóloga, a pessoa não consegue mesmo estabelecer o contato direto com outra pessoa. Pedir um pão na padaria começa a ficar impossível e, quando chega a este ponto, o indivíduo isola-se em casa.

“Isso prejudica os mais diversos aspectos da vida do indivíduo, que não terá meios para se desenvolver tanto afetivamente quanto profissionalmente”, reforça.

Segundo Marilane Resende, é preciso ressaltar que há uma grande diferença entre a timidez e a fobia social, uma vez que a pessoa tímida consegue administrar a timidez, conseguindo se expressar quando passa a adquirir mais confiança nas pessoas com quem convive.

“É importante saber que a timidez é uma característica de personalidade, sendo muito diferente da fobia social, que é um transtorno, uma patologia, um adoecimento psíquico”, esclarece

Diagnóstico do transtrono

Para que se possa diagnosticar a fobia social é preciso haver uma avaliação mais completa do indivíduo, uma vez que ela pode vir à tona por diversos fatores. Mas, em geral, existe um fator ou acontecimento provocador da doença. A fobia social pode, por exemplo, ser desencadeada por uma situação vexatória recente (da qual o indivíduo se envergonha).

"Mas geralmente ocorre devido a situações anteriores, algo gravado em sua estrutura psíquica, na qual a pessoa não teve recursos para lidar. A partir de então, volta a sofrer quando se vê diante de situação semelhante”, destaca a psicóloga.

Não é possível definir uma faixa etária na qual a fobia social seja mais recorrente, mas a especialista lembra que é difícil que o distúrbio ocorra na infância. Segundo a especialista, a criança é um indivíduo em processo de desenvolvimento psíquico. 

"O que nos leva a pensar que o aparecimento de sintomas semelhantes pode estar ligado a outras situações, não a esta patologia. Podemos falar de fobia social a partir da pré-adolescência, na adolescência ou vida adulta, período em que precisamos estabelecer mais relações com o outro”, afirma Marilane Resende.

Consequências da fobia social na vida prática

Entre as consequências da fobia social, de acordo com a psicóloga, é possível destacar a dificuldade em se alcançar os níveis desejados nos estudos e um déficit profissional, por não conseguir se relacionar de maneira satisfatória no ambiente de trabalho.

O indivíduo portador do transtorno também enfrentará o problema do déficit relacional, uma vez que, apesar de querer, a pessoa não consegue manter relações afetivas - como estabelecer uma vida conjugal, constituir família, ter filhos e mesmo ter amigos.

De acordo com a especialista, as consequências da doença são chamadas de biopsicossociais, uma vez que afetam não somente o aspecto emocional. “Há com certeza uma repercussão na saúde do indivíduo. Em casos mais graves, uma vez que a reclusão causada pela fobia social pode levar ao aparecimento de doenças, ou seja, ao sofrimento físico", lembra a psicóloga.

Outro aspecto levantado pela especialista está relacionado a questões econômicas. "Podemos falar também de um impacto financeiro, uma vez que a pessoa não conseguirá trabalhar ou atingir níveis profissionais melhores, além da parte social que é a mais evidente”, reforça Marilane Resende.

Depressão e fobia social

É muito comum acreditar que a fobia social pode levar ao desenvolvimento da depressão, mas esta relação é bem mais complexa. “Seria generalizar muito dizer que a fobia social pode causar depressão, pois a própria depressão também pode causar fobia social. Mas há casos em que um dos sintomas que levou ao diagnóstico da depressão foi o afastamento do convívio com pessoas”, ressalta.

É importante lembrar que na maioria dos casos é preciso que as pessoas mais próximas ao indivíduo o ajude a perceber que algo não vai bem e que pode estar desenvolvendo um quadro de fobia social. Deve-se eleger alguém mais próximo para falar com a pessoa que sofre do distúrbio, a fim de tentar encaminhá-la a um profissional.

“Geralmente a pessoa não consegue por si só identificar os sintomas. Principalmente pelo fato de que o transtorno tem como característica forte a reclusão, dificultando sua percepção de que se trata de um adoecimento”, reforça Marilene.

Tratamento indicado

O primeiro passo é uma avaliação individual feita por profissionais capacitados. “Um médico deverá identificar se não há um adoecimento físico, orgânico que esteja causando aqueles sintomas, enquanto um psicólogo poderá avaliar, tendo como base a história de vida do indivíduo", diz a psicóloga.

A partir desta avaliação, será verificado se trata-se realmente de fobia social ou do sintoma de outro adoecimento psíquico. A psicóloga explica que, nos casos mais graves, é indicado um acompanhamento psiquiátrico com uso de medicamentos.

A especialista lembra ainda que o tratamento da fobia social é eficaz, mas deve ser pensado a médio e longo prazo. “Tratar apenas com medicamentos ataca apenas os sintomas. Por isso é importante o acompanhamento psicológico para entender o fator gerador e tratar isso também”, conclui

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