Depressão pós-parto: um problema mais comum do que se imagina
Muitas vezes confundido com a tristeza, depressão pós-parto é grave e pode se tornar crônica se não receber a devida atenção

O nascimento do bebê é, sem dúvida alguma, um dos momentos mais emocionantes na vida dos pais, que muitas vezes passam meses planejando, se preparando e aguardando a sua chegada. O ato de dar à luz um novo ser coloca a mãe em um lugar ainda mais privilegiado, ao mesmo tempo em que também exige mais dela. Além de tudo o que envolve o parto, a recuperação também pode reservar surpresas não tão agradáveis, entre elas está a depressão pós-parto.
Para o ginecologista e obstetra Bruno Fernandes Gouveia, é normal que a mãe sinta tristeza nos dias após o parto, resultado das mudanças geradas pela própria gestação. “É preciso compreender que o corpo da mulher passa por situações extremas, com grandes alterações hormonais que fogem do normal do corpo antes da gestação, o que pode gerar certa melancolia que pode durar entre 10 e 15 dias. Se o quadro não mudar após isso, o mais indicado é buscar ajuda médica”, explica.
Um estudo realizado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) mostrou que em média 19,8% das mulheres são acometidas pela depressão pós-parto em países considerados subdesenvolvidos. A situação no Brasil se mostra ainda mais grave se confrontada com estes números, uma vez que pesquisa feita pela Escola Nacional de Saúde Pública, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) apontou uma média 26,3% de mulheres que apresentaram sintomas deste transtorno.
Depressão pós-parto ou tristeza?
De acordo com o psicólogo Adalberto Salles Campos, a principal diferença entre a tristeza e a depressão pós-parto é o fato de que a primeira surge nos primeiros dias após o nascimento do bebê, enquanto a outra pode demorar algum tempo para aparecer. “Por ser, em na maioria das vezes uma resposta do corpo às mudanças, a tristeza é quase imediata e desaparece em alguns dias, enquanto o quadro depressivo vem de maneira mais tardia, passadas algumas semanas do parto e pode durar meses”, destaca, lembrando que a tristeza atinge entre 50% e 80% das novas mamães.
E as consequências na vida da mulher podem ser graves e interferem diretamente em sua rotina. “Com o passar dos dias a mãe pode começar a perder a vontade de fazer as tarefas diárias, evitar o contato com outras pessoas – em alguns casos até mesmo com o próprio bebê, além de perder mesmo o interesse em tudo. Não são raros os relatos daquelas que pensam em suicídio”, afirma o psicólogo.
O especialista destaca ainda que hoje se dá mais atenção à depressão pós-parto, muito por causa dos danos que ela pode trazer para a vida da mulher e para a família. “Há tempos atrás qualquer alteração de humor era visto apenas como algo ligado às alterações hormonais, quando não era tratado apenas como um traço da personalidade feminina. Atualmente busca-se um diagnóstico mais completo como forma encaminhar para um tratamento adequado e evitar que venha a se tornar uma depressão crônica”, explica.
Apesar de se tratar de um transtorno que pode acometer qualquer mulher após o nascimento do filho, existem alguns fatores de risco para a depressão pós-parto. “Os casos onde a gravidez não foi planejada – ou mesmo não desejada – deve ser acompanhados com maior cuidado por parte dos profissionais e da família, pois há grandes riscos de que o problema apareça. A mulher que já possui um histórico de depressão antes ou durante a gravidez está também potencialmente mais propensa à depressão pós-parto”, destaca Campos.
Diagnóstico
Em um primeiro momento o diagnóstico da depressão pós-parto é feito com a observação dos sintomas e a eliminação dos casos que apresentam quadros não depressivos. “Muitas vezes a mãe chega ao consultório com queixas que indicam apenas cansaço ou mesmo a tristeza natural do pós-parto, o que dificulta muito a definição do problema. O que podemos fazer é acompanhar e orientar a paciente e seus familiares a observar o que acontece nos dias que seguem”, ressalta o psicólogo.
Como já assinalado anteriormente, o período em que apareceram os sintomas e sua duração ajudam a separar os casos de tristeza dos de depressão pós-parto. “Ao contrário da tristeza, os sintomas da depressão surgem aos poucos, geralmente se tornando mais graves próximo de um mês após o parto, com a tendência de piorar com o passar dos dias”, reforça.
Vale lembrar que somente um profissional capacitado terá condições de diagnosticar e encaminhar o melhor tratamento. “É muito comum tratarem qualquer sintoma de irritabilidade ou tristeza como depressão pós-parto, assim como é também recorrente que as pessoas não deem a credibilidade necessária à reclamação dos sintomas da mãe, o que pode também ser muito grave. Daí a importância de se buscar ajuda profissional”, afirma o especialista.
Tratamento
De acordo com Campos, os tratamentos mais indicados para a depressão pós-parto são as terapias. “Tanto a gestação como o período de amamentação são considerados delicados para qualquer tratamento, o que nos leva a tratar inicialmente o problema com psicoterapia”, destaca.
Casos mais graves ou com a persistência da depressão pós-parto, o tratamento pode avançar para a via medicamentosa, o que exige cuidado para não prejudicar o bebê. “Quando há uma continuidade ou mesmo agravamento do quadro, podem ser indicados medicamentos, mas tudo será acordado com a mãe em um regime que tenha a saúde da criança como o fator importante”, destaca.
“Uma orientação importante é para que tanto a mulher quanto seus familiares estejam sempre atentos aos primeiros sinais que possam indicar a depressão, buscando em seguida o acompanhamento e tratamento mais adequados. A depressão pós-parto pode deixar marcas muito fortes se não for tratada de maneira eficaz”, conclui o especialista.
Copyright foto: iStock