Projeto Negro Nobre valoriza papel dos negros na arte e cultura brasileiras

Artista visual faz montagens com personalidades afro-brasileiras para enaltecer a beleza negra e consciência a respeito da igualdade racial

Sharon Menezes é uma dar artistas negras retratadas no projeto Negro Nobre.

 

Os quadros clássicos da arte mundial dificilmente retrataram pessoas com outro tom de pele que não seja o branco. Há diversos motivos e justificativas históricas: desde o Eurocentrismo até a condição de escravidão enfrentada por milhares de nativos africanos durante séculos. Criado pelo artista visual Alberto Pereira em 2015, o projeto Negro Nobre usou a arte para mexer com esta dívida histórica.

Nas  obras do projeto, os personagens de quadros dos séculos XV, XVI, XVII e XVIII são substituídos por personalidades negras brasileiras.  A ideia surgiu através de uma brincadeira feita por Alberto, que também é negro, com sua própria foto de perfil na rede social Facebook. A partir daí o designer gráfico replicou a sua foto para artistas negros, sem muita pretensão

“Comecei a receber retorno de muita gente, até que um dia a Sandra de Sá compartilhou. A partir disso entendi como uma baita oportunidade a formulação de um projeto, com agenda, colagens semanais e uma meta de expor no Dia da Consciência Negra (celebrado em 20 de novembro)”, conta Alberto Pereira.  ​

Diversas celebridades aderiram ao projeto

Entre as celebridades participantes do projeto destacam-se nomes como a atriz Sharon Menezes, as cantoras Sandra de Sá, Gaby Amarantos e Alcione.  Entre as personalidades masculinas estão de Seu Jorge, Jorge Benjor, Paulinho da Viola e até os MCs Emicida e Mc Catra, numa fotomontagem do autorretrato de Mozart.

 

Sandra de Sá retratada no Projeto Negro Nobre.

 

Segundo o artista e idealizador, um jovem de 27 anos, o conceito e a proposta de suas fotomontagens são simples: com um pouquinho de humor e ironia, mostram a essencial participação de artistas e personalidades negras na construção da cultura popular brasileira. Ao mesmo tempo Alberto Pereira não esconde um toque de provocação, definindo sua ideia como um projeto de "artevismo".

“Mas é contraditório. Porque tem o apelo visual que chama a atenção pro lado jocoso e tem também a ironia por trás, que mostra o quanto todos nós temos preconceitos enraizados a ponto de reagir num misto de graça e estranheza ao ver negros como nobres europeus”, explica o artista.

 

Consciência negra nobre

O projeto não deixa de ser uma manifestação cultural em prol da discussão sobre o preconceito e desigualdade raciais no país, pontos chaves que levaram à criação de um feriado nacional, desde 2003, para homenagear Zumbi dos Palmares e criar o Dia da Consciência Negra.  

 

McCatra como Mozart no projeto Negro Nobre.

 

Ao mostrar artistas negros vestidos como nobres, Alberto Pereira afirma a condição de tantos brasileiros e brasileiras negros que constroem cultura no país. “São todos verdadeiros nobres", ratifica o artista visual.  

Para conceder essa nobreza aos artistas, Alberto os coloca assumindo o lugar de protagonistas em quadros renascentistas, barrocos, neoclássicos, românticos, todos estes períodos e movimentos artísticos em que negros não tinham representatividade e espaço nem no rodapé da tela.

“Foi um projeto de início, meio e fim, já não produzo mais as imagens”, diz Alberto. Mas as exposições continuaram rolando. Ano passado ocorreram duas. Nesse ano ocorreram mais duas, uma no Rio e outra em João Pessoa - que conseguiu realizar via crowdfunding.

“Terá uma próxima na FACHA (Rio de Janeiro)  nos dias 16 e 17 de novembro. E uma futura sendo planejada, provavelmente no Clube Naval Piraquê (também no Rio de Janeiro), mas ainda sem previsão”, informa Alberto.

 

Copyright foto: Reprodução das obras de Alberto Pereira

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