Descubra a importância em exercitar o assoalho pélvico
Exercícios simples de contração e relaxamento podem trazer benefícios na prevenção e tratamento da incontinência urinária
Quando se ouve falar em “fortalecer a musculatura”, a primeira imagem que vem à mente é de alguém levantando peso dentro de uma academia. Entretanto, não são apenas os músculos visíveis que devem ser trabalhados. O assoalho pélvico é um exemplo de região que deve ser constantemente exercitada, mesmo se a flacidez ou tonicidade desses músculos não seja aparente.
De acordo com o Dr. José Carlos Truzzi, chefe do Setor de Urologia do Laboratório Fleury Medicina e urologista da Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), o assoalho pélvico é um conjunto de estruturas musculares fixadas nos ossos da bacia e que compõe a sustentação para os órgãos da cavidade abdominal e pélvica. “O assoalho pélvico é um verdadeiro piso para o órgãos do abdômen e pelve”, explica o médico.
Maria Alice Lelis, especialista em incontinência urinária e enfermeira da SCA do Brasil, explica que os órgãos pélvicos no homem são a bexiga e o reto, e na mulher, a bexiga, o útero e o reto. Além de atuar com uma estrutura de sustentação, os músculos e ligamentos que compõe o assoalho pélvico apresentam um papel dinâmico de contração e relaxamento sincronizados com atividades cotidianas como esforços físicos, tosse, espirros, auxiliando na continência urinária, além de atuar durante a atividade sexual e o trabalho de parto das mulheres.
Porém, assim como ocorre com outros músculos do corpo, a musculatura do assoalho pélvico sofre traumas, como durante a gestação, o parto e certas cirurgias. No caso das mulheres, a menopausa bloqueia a liberação de hormônios, como o estrogênio, o que também contribui para a enfraquecimento da região.
Por fim, há o processo de envelhecimento natural das fibras musculares que leva à perda do tônus e capacidade de contração. Segundo Maria Alice, a tosse crônica, obesidade e exercícios de alto impacto, também aumentam a pressão do abdome sobre a pelve e sobre o assoalho pélvico.
Consequências de não exercitar o assoalho pélvico
A incontinência urinária é a consequência mais frequente relacionada ao enfraquecimento da musculatura do assoalho pélvico. “Na incontinência urinária por esforço, a perda de urina ocorre ao tossir, espirrar, carregar peso, ou como resultado de algum esforço físico que resulta em maior pressão do abdômen sobre a pelve”, explica Maria Alice.
O enfraquecimento do assoalho pélvico também pode estar relacionado à perda involuntária de fezes (incontinência fecal), prolapsos genitais (que se refere à descida de um órgão pélvico) e a manifestações de insatisfação sexual. Ainda segundo Truzzi, como o assoalho pélvico é responsável por sustentar os órgãos pélvicos, com o seu enfraquecimento também ocorre o afundamento ou queda de alguns órgãos em pontos de maior fraqueza do assoalho, como o canal vaginal, períneo e ânus.
O enfraquecimento da musculatura ainda contribuiu para o abaulamento (uma curva para fora) na região vaginal, conhecido popularmente como "bexiga caída", além do abaulamento no períneo (região entre a vagina e o ânus) e sensação de esvaziamento incompleto da bexiga após fazer xixi.
Por que as mulheres são mais atingidas?
De acordo com Truzzi, o assoalho pélvico feminino possui uma maior predisposição ao enfraquecimento, tanto pela própria anatomia, uma vez que o canal vaginal ocupa uma área do assoalho pélvico, como pelas questões hormonais relacionadas à menopausa e o parto. “A mulher adulta e a idosa são mais predispostas a disfunções e alterações da estrutura do assoalho pélvico”, esclarece o médico.
Além disso, durante a gestação e principalmente no trabalho de parto, a musculatura tem participação ativa, auxiliando na sustentação do útero, o que diminui o estresse causado no corpo da mãe, mas também existe uma potencial lesão de fibras musculares.
Os exercícios do assoalho pélvico podem fortalecer esta musculatura, trazendo benefícios durante a gestação e parto e também no pós parto, otimizando a recuperação da mulher, prevenindo e tratando eventuais episódios de perdas urinárias que podem ocorrer durante a gestação e no pós parto.
A importância dos exercícios
É possível prevenir o enfraquecimento do assoalho pélvico e evitar os efeitos citados após a gestação e o parto, a deficiência hormonal e o processo de envelhecimento. "Se aprendemos a controlar melhor essa musculatura e a fortalecer, por certo ela terá uma estrutura mais robusta e menos susceptível aos efeitos adversos aos quais está exposta”, alerta o urologista.
Embora o assoalho pélvico seja uma musculatura com controle voluntário, o médico explica que não é comum aprender a dominar com precisão os comandos exatos para que ocorra a contração e relaxamento de certos grupos musculares. “A realização de exercícios de modo errado pode ocasionar danos de difícil reparação no futuro. Eles devem ser orientados por profissionais especializados, como os fisioterapeutas com treinamento em assoalho pélvico”, ensina.
Os exercícios regulares, segundo Maria Alice, são simples: trata-se de contração e relaxamento dos músculos pélvicos, realizados com frequência e intensidade individualizada. A recuperação e manutenção da força muscular do assoalho pode trazer benefícios na prevenção e tratamento da incontinência urinária, incontinência fecal, prolapso genital e insatisfação sexual, com impacto positivo na qualidade de vida.
Além dos exercícios, outros recursos podem ser utilizados no fortalecimento da musculatura do assoalho pélvico, como eletroestimulação, biofeedback, uso de cones vaginais, pompoarismo e estimulação do nervo tibial posterior.
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