Angústia da separação: quando os bebês começam a sofrer com a ausência dos pais

Fenômeno que aos olhos dos pais parece começar de repente, a angústia da separação é comum entre os bebês um pouco antes de completarem um ano

A partir dos seis meses os bebês já começam a sofrer com a angústia da separação.


Diferente de outros animais, cujos recém-nascidos já conseguem lutar pela própria sobrevivência, o ser humano é incapaz de sobreviver ao mundo sozinho. O fenômeno conhecido como angústia da separação nos bebês ocorre à medida que a consciência humana vai se formando e os bebês já percebem que conseguem fazer alguns atos sozinhos, como começar a andar, por exemplo.   

Em geral, a partir de 6 meses de idade, os bebês já apresentam a angústia da separação. "Nesta fase as crianças começam a perceber que são indivíduos independentes de sua mãe ou cuidador. Quando a ausência dos pais vai aos poucos ficando maior, os bebês, acostumados a rostos familiares (pais, babás, avós), precisam se adaptar. Isso gera insegurança", explica a pediatra Cristina Makarenko, diretora da HomePed

Instinto de sobrevivência 

Esse sentimento de insegurança é fruto do instinto de sobrevivência. Os pequenos contam com pais e cuidadores para alimentá-los e darem todo o tipo de conforto, como protegê-los do frio ou perigos. A angústia da separação acaba sendo gerada pelo receio da criança em não conseguir comunicar seus anseios. 

“É através destes cuidados que constrói-se um vínculo afetivo capaz de fazer o adulto compreender as necessidades da criança e promover a sua satisfação de forma harmoniosa”, completa a psicóloga clínica, psicanalista e especialista em educação infantil, Sylvia Caram.

Quando os bebês ficam sem estes ‘adultos de confiança’ por perto, a tendência é o sofrimento dos pequenos e o desenvolvimento da chamada angústia da separação.

Angústia da separação e falta de memória

De acordo com a especialista em educação infantil, até o terceiro ano de vida o ser humano é incapaz de reter informações. A angústia da separação acaba sendo agravada pela falta de memória. É preciso que o bebê já tenha um conhecimento prévio acerca do que é percebido, se não ele não assimila. 

Na prática, o bebê precisará de tempo para reconhecer e criar vínculos com uma nova pessoa que entra em sua rotina, seja uma babá, sejam os educadores de uma creche.

“O rosto da mãe, por exemplo, é mais facilmente assimilado pelo bebê do que o rosto de um estranho. Conforme a memória passa a ser construída, dos seis aos 18 meses de vida, o bebê adquire a capacidade de assimilar rostos diferentes e, assim, fazer vínculos diferentes que deem suporte emocional às suas necessidades básicas”, acrescenta Sylvia Caram. 

A adaptação a um lugar novo é uma experiência ameaçadora para o bebê, pois ele entra em contato com algo que é incapaz de compreender e que não corresponde ao traço de memória do cuidado já recebido anteriormente. “Logo, o bebê apresenta reações similares a do medo. Ele pode também apresentar comportamento inibido, choro, tremor, busca de um aconchego em um lugar ou alguma pessoa, dentre outros comportamentos”, ilustra a psicóloga. 

Dor da separação agravada pelos pais

A relação de continuidade com um mesmo adulto (geralmente representado sob a figura materna) é fundamental para o desenvolvimento de uma personalidade com traços de estabilidade e autoconfiança.  

Mas para que os bebês não sofram tanto com a angústia da separação, as especialistas reforçam que, além das necessidades básicas, o adulto deve atender às necessidades emocionais dos pequenos e, assim, dar segurança à criança.

“Por vezes, a ansiedade de separação surge dos pais. Todo filho é sentido pelos pais como parte deles e a separação pode gerar muita ambivalência: a angústia de dividir a atenção sobre seu filho com uma pessoa estranha pode gerar muita frustração nos pais. Isso é percebido pela criança e reapresentado em forma de angústia da separação pelos bebês”, alerta a psicóloga Sylvia Caram.

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