Guia prático da cerveja
Confira os conselhos, dicas e astúcias para apreciar a bebida em todos os seus estilos
As prateleiras dos supermercados e empórios especializados não mentem: o mercado de cervejas está em alta. Indo muito além das tradicionais "loirinhas", uma infinidade de rótulos de bebidas artesanais ou especiais vem invadindo a rotina de quem procura por produtos de maior qualidade.
Muitos podem já estar familiarizados com nomes como pilsen, pale ale, weissbier e bock. Porém a oferta de cervejas vai longe: é impossível medir a quantidade exata de variedades da bebida. Cada vez mais, marcas nacionais e estrangeiras disputam os paladares dos consumidores com produtos que oferecem um amplo potencial de sabores, dos mais adocicados e frutados aos mais amargos e encorpados.
Diferente do que se imagina, as cervejas são classificadas em apenas dois tipos, que distinguem-se pela técnica de fermentação usada durante o processo: as Ales e as Lagers. A partir delas, a bebida divide-se em diversos estilos e sub-estilos, nomeados conforme inúmeros fatores. Entre os quais, os ingredientes utilizados, a origem do produto, o método de produção, as cores do líquido, o teor alcoólico e outras muitas características.
O que tem dentro
Mas, com tantas opções, apreciar uma boa cerveja pode ser tarefa árdua para quem não faz ideia do que traz cada garrafa. Afinal, do que é feita a cerveja? "Água, malte, lúpulo e levedura. São só quatro ingredientes necessários para se fazer cerveja, segundo a lei de pureza criada na Alemanha, em 1516", explica o biersommelier Marcus Vinícius de Andrade, proprietário da loja Mestre Cervejeiro, em Santo André (SP).
Segundo o especialista, cada ingrediente é responsável por transformar a bebida de sua forma bruta em um líquido cheio de sabores, cores e perfumes. "Todos os ingredientes contribuem para o sabor, o aroma e o visual da cerveja. Dá para ir muito além, manipulando cada ingrediente e usando outros elementos que forneçam características diferentes a cada cerveja. São infinitas possibilidades", diz Andrade.
Para escolher uma boa cerveja
Engana-se quem pensa que existe uma cerveja melhor ou pior disponível no mercado. Cada paladar ou gosto se encaixa com um ou vários tipos da bebida. "Quando o assunto é cerveja, tudo depende do que se quer tomar num determinado momento, da experiência que se busca naquele momento. Vai de pessoa para pessoa", afirma o especialista.
Em termos de cervejas artesanais, a dica é ir testando o paladar a partir de estilos mais leves e suaves, até chegar em bebidas mais complexas. "No Brasil, é muito comum as pessoas começarem pela tradicional pilsen, passarem pelas de trigo e estacionarem por um bom tempo nas IPAs (India Pale Ale)", pontua Andrade. E acrescenta: "Na hora de tomar ou comprar, se estiver na dúvida, sempre peça ajuda para quem vai servir ou vender a cerveja."
Como armazenar
Para quem decidir consumir a cerveja em casa, Andrade recomenda guardar a garrafa sempre em pé, "para diminuir a superfície de contato do líquido com o oxigênio, porque ele faz com que a bebida perca suas qualidades". Outro conselho é manter a bebida protegida do sol e colocá-la para gelar um pouco antes de tomar.
"Não tem problema a cerveja ficar muito tempo na geladeira, só não pode deixar congelar. Se você precisar tirar da geladeira, deixe a cerveja degelar naturalmente e, se for necessário, volte com ela para a refrigeração. Não há consenso sobre a cerveja perder as qualidades quando ela 'esquenta' e volta para a geladeira", indica.
Na hora de tomar
Cerveja estupidamente gelada? Nada disso. De acordo com Andrade, quanto mais gelada estiver a bebida, mais escondidos ficarão os aromas, os sabores e também os defeitos do líquido. "As lagers costumam ser consumidas um pouco mais geladas, porque são cervejas mais refrescantes e tomadas em maior quantidade. Já as ales precisam estar em temperatura mais elevada para ser possível sentir os aromas", esclarece.
Na prática, cada estilo tem uma temperatura recomendada para ser melhor apreciada. Mas para facilitar, ele explica que quanto maior o teor alcoólico, menos gelada a bebida deve estar.
A mesma lógica prática vale para os diferentes tipos de copo que são usados no serviço das cervejas. "O copo faz diferença no sabor e nos aromas da bebida, mas é possível usar um modelo-chave que vai funcionar para qualquer estilo. Por exemplo, uma taça tulipa funciona para apreciar bem toda cerveja", simplifica.
Abaixo, o biersommelier mostra as variedades mais conhecidas dos dois tipos de cerveja, explicando as características mais marcantes de cada uma. E de quebra, ainda dá algumas boas sugestões de marcas para apreciar em casa. Confira:
Ales
São as cervejas de alta fermentação, produzidas sob temperaturas mais quentes, que podem variar entre 15°C e 24°C. O processo desenvolve bebidas de sabores e aromas mais complexos, com líquidos mais intensos. Entre as ales mais populares estão:
Weiss, weizenbier ou witbier: cerveja feita de trigo, possui corpo claro e opaco (tem sedimentos na composição). É leve, de teor alcoólico equilibrado e traz notas de banana e frutas amarelas. Sugestões para degustar: Erdinger, Franziskaner, Vedett Extra White e Colorado Appia (com mel na composição).
Stout: cerveja escura e opaca, de origem inglesa. Em sua maioria, traz notas tostadas que lembram o sabor de café e possui teor alcoólico entre 4% e 5%. Sugestões para degustar: Guiness (dry stout), Invicta (imperial stout) e Dogma Orfeu Negro (russian imperial stout).
Porter: possui as mesmas características da stout, mas de sabor mais suave e com notas puxadas para o chocolate meio amargo. Seu teor alcoólico pode variar entre 4,5% e 6,5%. Sugestões para degustar: Fuller's London Porter, Tupiniquim Monjolo (imperial porter) e Way Beer Avelã Porter (com avelã na composição).
Pale Ale: cerveja geralmente clara, de sabores marcantes e aromas mais herbáceos. Em sua maioria, é conhecida pelo amargor e a gradação alcoólica pode variar de 5% até 12%. Possui o grupo mais extenso de variedades, entre elas a American Pale Ale e a India Pale Ale, também conhecida como IPA. Sugestões para degustar: Eisenbahn Pale Ale, Júpiter American Pale Ale, Schornestein IPA, Dama IPA, Madalena American Pale Ale.
Trapista: cerveja produzida tradicionalmente por monges de abadias na Bélgica e em outros países europeus. Todas levam um selo de controle de produção, que certifica a origem do produto. Em geral, são bebidas complexas e frutadas, levemente amargas e com uma espuma cremosa. Sugestões para degustar: La Trappe Blond, Chimay Tripel e Trappistes Rochefort 8.
Lagers
São as cervejas de baixa fermentação, produzidas em temperaturas menores, que variam entre 6°C e 12°C. Possuem sabores mais secos e, por muitas vezes, mais leves. Entre as lagers mais populares estão:
Pilsener ou pilsen: cerveja clara e bem leve, geralmente indicada para as altas temperaturas do verão. Traz notas de pão e possui amargor sutil. Sugestões para degustar: 1795 Original Czech Lager, Czechvar Premium Lager, Baden Baden Pils Cristal, Bamberg Camila Camila e Coruja Viva (cerveja não pasteurizada).
Vienna: cerveja de cor laranja-avermelhada, é leve e possui amargor bastante equilibrado que é contrabalanceado com um leve adocicado. Sugestões para degustar: Morada Double Vienna, Hausen Bier Vienna Lager e Brooklyn Vienna Lager.
Munich Helles: cerveja tipicamente alemã, é clara e levemente amarga. Possui teor alcoólico baixo. Sugestões para degustar: Paulaner Premium Lager, Hofbräu Original e Wieninger Teisendorfer Hell.
Bock: cerveja de tom acobreado, tem corpo translúcido e traz notas de caramelo toffee e aromas levemente frutados. Sua gradação alcoólica é média-alta. Sugestões para degustar: Schornstein Bock, Madalena Bock, Eisenbahn Weizenbock e Baden Baden Bock.
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