Pais estrangeiros devem ensinar a língua materna aos filhos

Crianças com pais de nacionalidades diferentes, ou que moram fora de seu país de origem, têm a vantagem de aprenderem mais rápido vários idiomas e tornarem-se bilíngues

A língua materna dos pais deve sempre ser transmitida aos filhos.


Em 2013, a publicação científica americana The Journal of Neuroscience confirmava que a melhor fase para se aprender uma língua é entre dois e quatro anos de idade. Nesta faixa etária as ligações entre os neurônios se desenvolvem para processar novas palavras e o cérebro está mais receptivo aos estímulos exteriores. 

A tenra idade é, portanto, o momento ideal para estimular as crianças a falarem mais de um idioma. E quem tem o privilégio de formar uma família poliglota, não deve perder a chance.

Casada com um italiano, a sommelière brasileira Marina Giuberti mora em Paris, com o marido e um casal de filhos gêmeos, Luca e Chiara, de 3 anos. O casal não desperdiça a oportunidade de dar uma educação trilíngue aos filhos.
 
"Eu decidi falar só português com eles e meu marido, só em italiano. As crianças entendem e falam tudo, nas três línguas", conta Marina. Na creche a língua é o francês e a mãe conta que as crianças já começaram a falar o idioma do país onde vivem sem sotaque algum.


"Brinco com as educadoras que logo logo meus filhos vão falar melhor que eu, que permaneço com o sotaque brasileiro", diz a sommelière. Especialistas garantem que este é mesmo o melhor método de incutir na criança o hábito de pensar em idiomas diferentes.
 
Marina conta que conversou com o pediatra e com alguns psicólogos, e foi apoiada para continuar a manter a língua materna dos pais na comunicação com os filhos. "O pediatra só me alertou que meus filhos poderiam demorar um pouco mais a falar, mas isso seria natural', conta a sommelière.
 

A sommelière brasileira Marina Giuberti com os filhos Chiara e Luca. que têm a sorte de aprenderem três línguas diferentes aos 3 anos.


Língua forma laços afetivos

A maior parte dos pais concorda sobre quão vantajoso será para os filhos falar mais de uma língua. Especialmente no futuro, quando estiverem em busca de emprego. Mas não se trata apenas de uma questão de currículo.
 
A afetividade é também um fator importante a ser considerado. Muitas vezes os pais acham que a sua língua não tem importância no mundo e por isso não precisam ensiná-la aos filhos. Mas especialistas afirmam o contrário.
 
“A formação pessoal e o desenvolvimento do lado afetivo também dependem do conhecimento da língua de origem. Há casos de pessoas que não se importaram em ensinar seus filhos a língua materna. E as crianças não conseguem se comunicam com avós, primos, tios. Perdem as referências, os laços.”, alerta Nina Roig, professora da Aliança Francesa com formação em Ciências da Linguagem na França
 
É claro que normalmente a criança acaba desenvolvendo melhor a língua falada no país onde vive. A escola dá a base e o convívio social sustenta. Há um risco de perda de vocabulário, à medida que o tempo passe, principalmente quando se chega à fase de adolescência
 
Entre os 13 e 18 anos é tempo de socializar e as crianças bilíngues relutam em falar o idioma dos pais, em busca do vocabulário usual do meio onde vivem. Mesmo nessas horas, os pais devem insistir. 

Passada a rebeldia da fase, no futuro, ao se tornarem adultos fluentes em mais de uma língua, os filhos tendem a agradecer aos pais.
 
Talvez seja preciso um reforço de gramática para se tornar de fato fluente e poder escrever corretamente, além de falar e compreender. “Mas eles já estarão em vantagem, quando comparados a qualquer outra pessoa que comece a aprender uma língua já adulto”, confirma a professora Nina Roig.
 
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