Não consigo amamentar, e agora? Saiba como reverter o problema
Conheça a experiência de mães que superaram a dificuldade no início da maternidade e conseguiram dar o peito aos seus bebês
O aleitamento materno exclusivo nos primeiros seis meses de vida é o melhor, o mais completo e mais saudável alimento para os bebês, comprovam diversos estudos científicos e recomenda o próprio Ministério da Saúde. No entanto, muitas mães que planejaram dar o peito ao recém-nascido acabam por enfrentar dificuldades ou restrições que as impedem de amamentar.
Especialistas defendem que, do ponto de vista genético, a amamentação é algo que todas as mulheres têm condição para realizar. Mas quando surgem problemas inesperados que dificultam o aleitamento, o melhor é manter a calma e perseverar.
"A amamentação exige doação, disponibilidade ou até desprendimento da vaidade, de pudores. O que para algumas mulheres é mais fácil, para outras nem tanto. Sem contar o festival de palpites ao redor. As mães sabem dos inúmeros benefícios da amamentação e acredito que todas desejam amamentar", comenta a psicóloga Maria Correa. De acordo com a especialista, quando surgem dificuldades como "bico que sangra, leite que seca ou até algo mais grave", é necessário fazer a travessia dos obstáculos para finalmente conseguir amamentar o bebê.
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Foi o caso da profissional de marketing Yayenca Yllas, uruguaia casada com um brasileiro e mãe de Celeste, hoje com seis meses. Após o nascimento da filha, contraiu uma infecção por complicações na episiotomia - corte feito entre a vagina e o ânus durante o parto normal, para facilitar a passagem da criança.
Ela ficou internada, precisou fazer uma cirurgia delicada e foi medicada com antibióticos muito fortes, sendo impossibilitada de amamentar quando o bebê estava com apenas sete dias de vida. "Como eu achava que teria alta rapidamente, recorri a um banco de leite, que me forneceu quantidade para 24 horas", conta Yayenca.
Os bancos de leite humano são abastecidos por mães que doam o excesso de leite. O alimento passa por processo de pasteurização capaz de matar até o vírus da Aids. Por isso, essa ainda é a alternativa mais segura e mais recomendada pelos médicos para mães que não podem amamentar.
Porém, nem sempre os bancos de leite têm disponibilidade suficiente para um aleitamento prolongado. E como a infecção de Yayenca mostrou-se grave e uma intervenção cirúrica foi necessária, a ama de leite foi a solução - incentivada pelo médico que a operou.
"A mulher de um amigo do meu marido se ofereceu quando soube do meu caso. Ela foi um anjo. Minha filha era levada todas as manhãs para ser amamentada e depois, à noite, quando seu filho pulava a mamada, ela ainda se dava ao trabalho de retirar o leite de seu peito com uma bomba, congelar e, assim, garantir leite humano para minha filha pelo menos duas vezes ao dia", recorda Yayenca.
Todos os pediatras consultados por Yayenca na época foram contra e disseram que a criança correria risco de contrair doenças, mas ela foi firme em sua decisão, o que ajudou o bebê a não se acostumar com a mamadeira. Ela também não descuidou e continuou bombeando o peito a fim de que o leite não secasse. Tão logo parou de tomar os antibióticos, a mãe da pequena Celeste retomou a amamentação após dois meses.
Perseverança em amamentar
O que muitas mães não sabem é que o desmame não precisa ser definitivo. E mesmo bebês que tomaram leite de mamadeira podem voltar a se acostumar com o peito. A vendedora Carla Vianna conta que passou toda a gestação de sua filha Bruna, hoje com 19 anos, convicta de que iria amamentar. Quando a menina nasceu, precisou encarar o fato de que o bico de seu peito havia sofrido rachaduras e feridas que causavam dores insuportáveis.
"Eu não fiz o que deveria ter feito: massagens, banho de sol. Foram três meses até que as feridas se abrissem por completo e cicatrizassem, sem que eu tivesse parado de amamentar. Pensei em parar somente quando o leite secou. Mas secou porque estava sendo traumático para mim. Tomei um remédio e foi voltando aos poucos. Tive que dar uma mamadeira, para reforçar durante esse período, mas depois que o leite voltou e as feridas secaram, fluiu normalmente e tudo passou", relata Carla.
Quando o bico do peito sangra e forma feridas, a amamentação ainda é recomendada. Diferente do que muita gente pensa, não há risco da criança ingerir sangue da mãe. "Não há nenhum perigo em o bebê tomar o sangue da mãe, porque o leite humano é como se fosse o sangue, sem glóbulos vermelhos", explica Maria Lúcia Futuro Mühlbauer, coordenadora da ONG Amigas do Peito e mãe de cinco filhos.
Longe dos palpites
Para seguir convicta na sua determinação em amamentar, a vendedora Carla Vianna preferiu se isolar com a filha e contar exclusivamente com sua mãe, que a apoiava na decisão de continuar a amamentar, apesar do sofrimento. Suspendeu visitas e evitou os "palpites" alheios.
"Tive parto normal. Sempre optei por meios naturais e, para mim, a amamentação estava acima de tudo, até daquela dor insuportável que sentia nos primeiros dias, em que amamentava chorando. Continuo a favor da amamentação, foi um período em que nem sequer uma gripe minha filha pegava", afirma Carla.
No entanto, há casos que, mesmo após orientações e acompanhamento de profissionais, a mulher não consegue voltar a dar o peito. Também há situações em que a mãe não está recomendada a amamentar, como no caso de portadoras do vírus HIV. Nessas situações, é preciso seguir as recomendações de pediatras para a substituição da alimentação natural do bebê, sem sentir culpa ou frustração.
"O que leva algumas mães a desistirem do aleitamento é não conseguirem atravessar as dificuldades, porque isso depende do limite de cada um. Não conseguiu amamentar, siga em frente", incentiva a psicanalista Maria Correa.
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