Entenda por quê mãe é mesmo tudo igual
Conheça a visão de especialistas sobre as frases prontas, clichês e outros lugares-comuns em torno da relação entre mães e filhos

O ditado popular "mãe é tudo igual" encontra explicação em teorias da psicanálise.
“Já fez o dever de casa?”. “Está levando o casaco?”. “Seu quarto está sempre uma bagunça!”. “Quando eu não estiver mais aqui vocês vão me dar valor!”. “Eu vou sumir...”. “Me liga quando chegar, viu?”. Quem nunca ouviu alguma destas frases? Pois elas são apenas pequenas amostras das frases prontas e expressões tão frequentemente usadas por quem é mãe.
Baseado em discursos semelhantes, o senso comum costuma ser categórico: mãe, aqui, ali e em qualquer lugar, é tudo igual! Mas será mesmo verdade? Coordenadora da página Mães em Rede um site que integra visões do comportamento de mães brasileiras espalhadas pelo mundo, a jornalista e empresária Raquel Almeida afirma que sim.
"É claro que há as diferenças locais e os choques culturais. Nós, latinas, somos mais superprotetoras, nossas crianças demoram a sair sozinhas de casa. Na Europa e na Austrália, com oito, dez anos eles já são muito independentes. No Brasil, tinha empregada e diarista para ajudar. Lá fora, todo mundo ajuda na organização e condução da casa. Mas preocupações de mãe continuam as mesmas, em qualquer lugar”, acrescenta Raquel.
Mães repetem comportamentos
Já na opinião da mestre em psicologia e especialista em atendimento a famílias com crianças e adolescentes, Maria Correa, em psicanálise nada é "tudo igual", como convencionou o senso comum. Ou, nas palavras da psicóloga, “ao menos não precisaria ser”.
Ao mesmo tempo, a especialista afirma que existe uma série de impressões, vivências, enunciados, valores e crenças que são transmitidos à espécie humana pela convivência. “Essa transmissão é feita de modo tão contundente que vivemos quase como se fossem impressas geneticamente ou, como gostamos de dizer, naturais”, explica Maria.
Segundo ela, à luz da psicanálise, essa repetição de comportamentos das mães é uma construção social – seja por via da palavra, dos gestuais ou das identificações. “Todo o trabalho está justamente nessa desconstrução do que é vivido como se fosse uma herança genética e reside na possibilidade de subvertermos, de reinventarmos nossos papéis e funções. É possível cada um encontrar um modo legítimo e, por que não, mais criativo de exercer os papéis escolhidos. E a maternidade seria um deles”, completa.
Existe uma expectativa muito grande em relação à maternidade. Tanto da mãe em relação a esta fase da vida, como da sociedade em relação à perfeição no desempenho deste papel. Talvez por isso as mães optem pela repetição de padrões, para cumprirem o que se espera delas e correrem menos risco de serem criticadas.
Arquétipo da ‘grande mãe’
A psicóloga e terapeuta holística Andreia Bernardo enxerga sabedoria no dito popular de que 'mãe é tudo igual'. E essa sabedoria reside na teoria de um dos maiores pensadores da psicanálise, o célebre psiquiatra suíço Carl Jung.
De acordo com a especialista, para Jung, existe dentro da psiquê humana um grande inconsciente coletivo, ou seja, uma espécie de conjunto de pensamento comum à humanidade. Nele, habitam arquétipos (tipos simbólicos), como, por exemplo, o arquétipo do herói, da grande mãe, da criança divina, do velho sábio, entre outros.
As teorias junguianas defendem que em todo arquétipo residem o lado positivo e o lado negativo. Exemplos de características positivas do arquétipo 'grande mãe' seriam a nutrição, o acolhimento e a proteção dos filhos. Em contrapartida, alguns aspectos negativos seriam a dificuldade de ver o filho dar carinho ou receber afeto de quem não seja a própria mãe (gerando a chamada castração), ou a negação da feminilidade, que seria sobreposta pela maternidade.
"Quando vivemos a maternidade, o arquétipo da grande mãe é aflorado através de algumas características comuns. Mãe é tudo igual no sentido de já trazermos em nosso inconsciente referências milenares para viver esse papel. Porém, a forma ‘positiva ou negativa’ de como cada mulher viverá a maternidade em sua vida depende da história pessoal, da cultura, da família e outras tantas experiências", explica Andreia.
Neste aspecto, a psicóloga Maria Correa acredita que as novas configurações das famílias podem mudar a pressão em relação ao papel da maternidade. “As chamadas ‘novas famílias’, formadas por duas mães, dois pais, madrastas, pai cujo gênero foi feminino um dia e vice-versa, meio-irmãos, casais separados que dividem a mesma casa e outras poderão ajudar a nos descolarmos desse 'natural' e fazer o papel de mãe se tornar mais divertido, leve e prazeroso”, conclui a especialista.
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