Aprenda a decifrar um desfile de moda
Entenda como alguns modelos de roupa, extravagantes quando mostrados nas passarelas, são traduzidos nas coleções que irão para as lojas
Moda nem sempre é um assunto simples de entender. As tendências das passarelas podem não ser muito claras para algumas pessoas e certas peças levantam a pergunta: "como vou andar com essa roupa na rua?". Na verdade, muitas vezes um modelo está ali mais para mostrar o tema da coleção do que o corte da roupa ou seu caimento.
Ninguém precisa ser um fashionista nato para entender o que se passa na cabeça de um estilista quando o mesmo resolve apresentar peças que parecem um tanto carnavalescas ou mesmo sombrias e até ousadas demais para o dia a dia. Basta saber observar e conhecer um pouco a lógica do mundo fashion.
Do exagero ao detalhe
Para a produtora de moda e consultora de estilo Paula Saady, que dá dicas de como se vestir e sugestões de tendência parisienses no blog Paris me Chama, entender um desfile não é nenhum bicho de sete cabeças.
"Os estilistas costumam exagerar nos detalhes justamente para marcar bem a tendência. Então, quando um modelo masculino desfila roupas soltas demais ou com decotes que praticamente nenhum homem usaria (foto), é simplesmente para chamar atenção para a coleção, que vai privilegiar roupas frescas e soltas", explica a especialista.
O exagero nas cores e estampas também são muito comuns em desfiles. Um look completamente colorido, composto por blazer, calça e camisa com a mesma estampa, por exemplo, pode chegar às lojas resumido a uma camisa estampada para ser usada com uma calça jeans básica.
"Nos desfiles, destaca-se o ponto forte da tendência. O modelo da Amapô (foto), apresentado durante a temporada de inverno 2015, na São Paulo Fashion Week, por exemplo, revela uma tendência medieval, a meu ver grande influência da série de sucesso Game of Thrones. Essa marca, meio aventura fantástica, está presente nos traços geométricos e nos metais. Mas é claro que nas lojas terá um tecido cobrindo as partes que no desfile aparecem nuas", comenta Paula.
Tudo que é exótico na passarela pode depois ser transformado apenas em um detalhe na bainha, na manga ou na gola de uma roupa. E nem de longe quer dizer que será preciso se vestir exatamente como as modelos do desfile.
Roupa de desfile é, sim, para todos
Outro mito a ser derrubado é a afirmação usual de que as roupas dos desfiles não são para "meros mortais". Muitas vezes isso acontece, porque associa-se a peça ao visual dos modelos - mulheres muito magras e homens com corpos perfeitos.
"Ninguém precisa torcer o nariz para isso, pois é apenas o padrão estético atual. O importante é a grife depois oferecer a numeração adequada às pessoas "comuns". Uma peça de roupa mostrada em uma modelo super magra pode ficar muito bem em um manequim 46", garante a consultora.
Então, em tempos de Fashion Week, é preciso deixar o preconceito de lado e se divertir com a "tradução" dos desfiles. A moda das passarelas influencia as ruas, mas o comportamento da sociedade também dita tendências.
Não por acaso, desfiles como o de Yves Saint Laurent, na década de 1970, foram marcantes e considerados históricos. Na época, o estilista francês lançou o smoking feminino, numa clara manifestação de apoio ao movimento feminista, que pleiteava a igualdade entre os gêneros.
Estar atento ao fenômeno de retroalimentação de tendências, que vai dos desfiles às lojas e do comportamento da sociedade às passarelas, é um segredo simples para se entender a linguagem das passarelas. "O estilista liga os pontos entre as tendências do cotidiano e a sua criatividade particular. A moda não está no museu, parada. A moda não é uma arte fechada, mas interativa, contínua e até política", completa Paula.
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